O que (não) fazer com as birras

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Birras

As birras podem ser frustrantes para qualquer pai ou mãe e, muitas vezes, existe a tendência para encará-las como um desastre. Estas são comuns em crianças entre os 1 a 3 anos de idade e são uma parte normal do desenvolvimento infantil, pois é assim que mostram que estão zangadas ou frustradas, quando as capacidades de linguagem estão, ainda, a desenvolver-se. Por isso, podem acontecer quando estas estão cansadas, com fome ou desconfortáveis. Também pode acontecer por não conseguirem algo, como um brinquedo ou um pai. Lidar com a frustração é algo que as crianças aprendem ao tempo e, à medida que começam a aprender a falar, as birras tendem a diminuir.

Então, o que devemos ou não fazer durante uma birra?

Mesmo quando sabemos, como pais, como devemos responder a uma birra, no calor do momento, achamos difícil resistir a fazer a coisa errada – algo que, não só não funciona, mas torna as coisas piores. Parar um momento para considerar por que é tão importante evitar essas respostas pode ajudar a consolidar a sua decisão de não recorrer a elas de uma forma quase automática.

Não invalide a perspectiva ou as emoções da criança

Quando os pais descrevem as birras da criança, frequentemente falam do tema com muita surpresa: “Ela enlouquece completamente com a coisa mais insignificante!” Os pais tendem a descrever as razões das birras como algo “menor”, “menos importantes”, “mais triviais”, por olharem para elas como algo absolutamente absurdo.

Ainda assim, quando estamos com os nossos filhos, é importante que não riamos, que levemos a sério as suas reacções e experiências. Além de rir, existem outras formas de invalidar o que estão a sentir, como:

“X não é grande coisa.” Quando é que se recorda de tal ter funcionado? O seu filho nunca dirá: “Sabes, mãe, tens toda a razão. Não é grande coisa. Reagi demasiado.” Nunca ninguém responde desta maneira.

“Oh, vá lá, é só X.” O “só” revela a desvalorização do motivo pelo qual o seu filho está zangado.

“Não há motivos para ficares tão zangado.” Pense nas suas próprias experiências de quando está zangado. É sempre bom saber que está zangado sem um motivo, não? Não. Ou acredita que há uma boa razão para estar tão zangado ou está ciente da ausência de uma “razão” do ponto de vista lógico e, mesmo assim, está zangado. E agora também se sente envergonhado por estar zangado, já que, aparentemente, não há razão nenhuma.

“Estás a ser ridículo.” Esta frase fala muito por si mesma. Ninguém gosta de saber que está a ser ridículo, seja com que idade for. O mesmo se reflete quando usamos a palavra “irracional” ou dizemos “acalma-te”.

Não diga ao seu filho como se sentir

Esta é uma grande regra geral e é particularmente relevante para as birras. Estes são comentários que não só invalidam as emoções e as experiências das crianças, mas também as instruem a sentir algo diferente do que estão a sentir, por exemplo: “Não fiques zangado” ou “Pára de ficar tão zangado!”

Estas situações são frequentes quando as crianças estão a tentar aprender algo, como construir um prédio com blocos ou desenhar um círculo “perfeito”. Muitas vezes, durante estas atividades, as crianças gritam ou choram quando “estragam”, levando os pais a correr para “ajudar”, de forma a evitarem o choro da birra. E aqui surge facilmente a frase do “não há nada para ficares zangado”.

Embora estes comentários às vezes funcionem para evitar uma birra no momento, as crianças, muitas vezes, respondem ficando ainda mais zangadas. Em contraste, no entanto, costumam acalmar-se quando os pais simplesmente ajudam a rotular os seus sentimentos ou descrevem a circunstância em questão: “Estás frustrado porque parece mais um rectângulo do que um círculo, não é?” ou “Estavas a trabalhar tanto e, de repente, caiu tudo.” Quando as crianças têm a oportunidade de ter suas emoções ouvidas e entendidas pelos seus pais, sentem-se aliviadas e não precisam de demonstrar a sua aflição com gritos mais altos ou choro mais forte.

Por outro lado, se lhes é dito com frequência para não sentir o que estão a sentir, as crianças podem acreditar que têm a capacidade de ligar e desligar as suas emoções ou que deveriam ser capazes de fazer isso. As crianças precisam de aprender que os seus sentimentos fazem parte da vida – mesmo as mais difíceis – e que elas vêm e vão, como ondas do mar, onde precisamos de nadar. Como pais, precisamos ensinar-lhes como lidar com esses sentimentos, não como não tê-los.

Não minta ao seu filho para evitar uma birra

Frequentemente os pais mentem – ou dizem meias-verdades – para evitar dizer “não” e fazer com que o seu filho sinta (e expresse, provavelmente em forma de birra) decepção ou frustração. Há momentos em que uma pequena mentira é boa, sim. De vez em quando, pode dizer ao seu filho que não há mais bolachas, apesar de haver uma caixa por abrir na despensa. Mas dizer ao seu filho que o tablet está partido (quando simplesmente não quer que ele o use) ou que a loja de brinquedos está fechada (quando não quer parar a caminho de casa) não traz à criança ou a si qualquer benefício.

Se quer que o seu filho seja honesto consigo, seja honesto com ele. Mais cedo ou mais tarde, ele vai perceber que o tablet não se parte a uma determinada hora todos os dias e, a seguir, o que é que ele vai pensar sobre todas as coisas que já lhe disse? As crianças precisam de ver os pais a assumir a responsabilidade de estabelecer limites de forma aberta e clara.

Não diga que o comportamento de seu filho está a deixá-lo a si triste

As crianças não são responsáveis ​​pelo bem-estar emocional dos pais. Os pais são responsáveis ​​pelo bem-estar emocional dos seus filhos. Tentar provocar o comportamento da criança tendo em conta os seus sentimentos é algo perigoso. Será importante para ela aprender que o seu comportamento afecta outras pessoas? Claro. No entanto, é inapropriado para o seu desenvolvimento pedir que ela aja de uma determinada forma, no sentido da responsabilidade pelos seus sentimentos.

Contudo, pode expressar o que está a sentir, dizendo, por exemplo: “estou a começar a sentir-me frustrado / zangado”, pois assim implica que os seus sentimentos são seus e modela a sua capacidade de reconhecê-los e rotulá-los e agir de acordo com eles – algo que o seu filho aprenderá consigo.

Não tome birras – e as coisas que o seu filho diz antes ou durante – como algo pessoal

Quando o seu filho está a fazer birra, poderá ouvir coisas como: “Eu odeio-te!”; “És uma mãe má”; “Eu quero o pai, não a ti!”; “Vai-te embora!” Estas coisas nunca são fáceis de ouvir, no entanto, são expressões apropriadas de raiva para crianças desta idade. Ficar irritado e responder de volta não ajuda em nada a aliviar a angústia do seu filho. E, com isto, este também não será o momento mais adequado para ensiná-lo a ser respeitoso e a ter boas maneiras.

Não use sarcasmo

O sarcasmo é uma forma de comunicação e que as crianças pequenas não conseguem entender. Podem perceber que o seu tom não corresponde às suas palavras, mas não sabem o que fazer com isso. O seu filho sentir-se-á confuso com o uso do sarcasmo quando estiver zangado e, no pior dos cenários, poderá sentir-se humilhado.

Sim, sabemos que, mesmo assim, com todas as dicas que existem no mundo, haverá um momento em que levanta a sua voz mais alto do que gostaria ou disse algo que ainda se arrepende. Lembre-se, as birras, geralmente, não são motivo de preocupação e tendem a desaparecer por conta própria. Quando as crianças amadurecem, ganham autocontrolo, aprendem a cooperar, a comunicar e a lidar com a frustração. E os pais terão outras (tantas!) oportunidades para acertar.

Leia aqui o resumo das dicas para lidar com birras!

Cristiana Pereira
Cristiana PereiraPsicóloga Clínica
2019-04-26T19:23:09+01:0026 de Abril, 2019|
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