E se o cérebro funciona de forma diferente na perturbação da ansiedade generalizada?

Tempo de Leitura: 6 min

E se o cerebro funciona de forma diferente na perturbacao da ansiedade generalizadaImagine estar constantemente preocupado com qualquer coisa. Como se não conseguisse “desligar” das suas preocupações. Uma a seguir à outra. Surge, então, uma sensação de não ter controlo sobre si próprio. E, com isso, a sensação de estar sempre a mil.

As pessoas com Perturbação de Ansiedade Generalizada (PAG) experienciam uma preocupação excessiva e generalizada sobre as diferentes áreas da vida quotidiana, como a família, a saúde ou a financeira. Estas preocupações estão presentes, mesmo quando se sabe que não há motivos para isso. Além disso, sintomas como batimentos cardíacos acelerados, falta de ar e suores, estão presentes frequentemente.

No entanto, estes sintomas nem sempre se correlacionam com as respostas físicas. Por outras palavras, a percepção que temos do nosso estado fisiológico, que é chamada de interocepção, muitas vezes não corresponde ao nosso estado fisiológico. Por exemplo, podemos sentir que o nosso coração está acelerado, mas não está. Melhor explicando, a interocepção é um processo de detecção de sinais corporais, que é importante para o funcionamento fisiológico e é importante na nossa saúde física, na saúde mental, bem como no funcionamento emocional em geral.

Tendo em conta esta desconexão entre a interocepção e a fisiologia, surgiu um novo estudo. Os investigadores concentraram-se em saber se as pessoas com PAG demonstram respostas fisiológicas, perceptivas ou neuronais anormais e se estas respostas podem estar associadas a sensações de ansiedade. Por outras palavras, queriam determinar se os cérebros das pessoas com PAG processavam as informações do corpo de maneira diferente.

Os participantes incluíram 58 mulheres – 29 com diagnóstico de PAG e 29 sem diagnóstico. Cada participante recebeu uma infusão intravenosa de solução salina e isoproterenol – uma substância que imita os efeitos da epinefrina no corpo sem afetar a atividade cerebral.
Os resultados mostraram que, durante infusões de baixa dosagem de isoproterenol, as participantes com PAG apresentaram frequências cardíacas mais altas. Também perceberam que os seus batimentos cardíacos eram mais intensos em comparação com as pessoas sem PAG. Como escrevem os autores, “o grupo PAG exibiu hipersensibilidade à dose mais baixa de isoproterenol”.

Os participantes com PAG também exibiram menor atividade neuronal no córtex pré-frontal ventromedial. Esta área do cérebro é responsável por regular o sistema nervoso autónomo e gera sentimentos de medo ou segurança. O sistema nervoso autónomo regula certos processos do corpo, como pressão arterial e a frequência respiratória. Funciona de forma autónoma, sem esforço consciente da nossa parte. Depois de receber informações sobre o corpo e o ambiente externo, este sistema responde estimulando os processos corporais, geralmente pela divisão simpática, ou inibindo-os, pela divisão parassimpática.
Voltando ao estudo, isto quer dizer, segundo um dos autores do estudo, que “a administração de isoproterenol permitiu-nos fornecer evidências causais de que um sistema cardiovascular anormalmente sensível e um córtex frontal anormalmente insensível em pacientes com PAG diminuem a sua capacidade de regular a excitação corporal. Isto pode ajudar a explicar por que é que eles sentem ansiedade com tanta frequência e numa ampla variedade de contextos”.

Com isto, o estudo mostra não apenas que o funcionamento disfuncional do sistema nervoso autónomo é um fator na PAG, mas também que ocorre em combinação com o funcionamento irregular em áreas específicas do cérebro.

Os investigadores esperam que este estudo leve a mais pesquisas sobre o córtex pré-frontal ventromedial como alvo terapêutico para tratamentos inovadores para pessoas com PAG.

“É a interação entre o nosso cérebro e o corpo que pode ser essencial para determinar se uma situação inofensiva cria um estado de medo em indivíduos com PAG”, enfatizou Khalsa, um dos autores do estudo.

Por isso, aqueles com PAG têm uma grande dificuldade em compreender e regular a sua experiência emocional pelo que utilizam a preocupação como uma estratégia cognitiva para suprimir ou controlar a sua experiência emocional.

Desta forma, a preocupação interfere com o processamento emocional e com o foco no momento presente.

Em terapia é possível tratar esta perturbação, com bons níveis de eficácia. Trata-se de um trabalho muito pragmático e muito centrado nas particularidades de cada cliente, visando a retoma rápida do equilíbrio, num primeiro momento, e a aquisição de competências de auto-gestão que possam servir, ao longo da vida, para a manutenção desse bem-estar.

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Fonte:
Teed AR, Feinstein JS, Puhl M, et al. Association of Generalized Anxiety Disorder With Autonomic Hypersensitivity and Blunted Ventromedial Prefrontal Cortex Activity During Peripheral Adrenergic Stimulation: A Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry. 2022;79(4):323–332. doi:10.1001/jamapsychiatry.2021.4225
Pawluk, E., Koerner, N., Kuo, J. & Antony, M. (2021). An experience sampling investigation of emotion and worry in people with generalized anxiety disorder. Journal of Anxiety Disorders, 2021; 84. doi.org/10.1016/j.janxdis.2021.102478

Cristiana Pereira
Cristiana PereiraPsicóloga Clínica

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2023-08-17T11:48:06+01:0017 de Agosto, 2023|
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