Quando estamos onde não queremos estar… nas férias!

Tempo de Leitura: 7 min

Quando estamos onde não queremos estar… nas férias!Já lhe aconteceu ir numa viagem de férias para se divertir e, de repente, sentir saudades de casa e desejar regressar o mais rapidamente possível?
Quer estejamos a viajar sozinhos, em família ou com amigos, todos nós podemos sentir esta sensação estranha e inexplicável. É como se estivéssemos felizes e a divertirmo-nos, mas com a sensação de que falta qualquer coisa.

Esta sensação surge porque a ideia de base de uma viagem não vem com um sentimento de pertença ou um propósito, dois fatores que contribuem para sentirmos que temos uma vida significativa, segundo alguns estudos.

No livro The Power of Meaning, da professora Emily Smith da Universidade da Pensilvânia, são mostradas evidências de que as pessoas que classificam as suas vidas como mais satisfatórias são aquelas que mais relatam sentimentos de pertença e propósito: duas coisas que faltam fundamentalmente em 95% das viagens.

Porque é que o viajar necessita de pertença e propósito?
Segundo a autora, “precisamos de nos sentir compreendidos, reconhecidos e afirmados” e, de facto, enquanto pessoas, temos a necessidade nos sentirmos ouvidos por alguém. Quando, por vezes, o viajar pode trazer alguma sensação de isolamento.
Por outro lado, um período de férias dura, geralmente, uma ou duas semanas e é repleta de atividades até ao último minuto. Por isso, às vezes sentimos que as férias passam de relaxantes a algo stressantes.
Além disso, ficamos em lugares novos e fazemos amizades que não duram mais do que um jantar ou um dia até partirmos para a nossa próxima atividade planeada. Viajar assim pode fazer-nos sentir que as nossas férias nos levam a ter estes relacionamentos superficiais, o que pode despoletar uma sensação de que nos falta algo, como falar com alguém que nos seja mais próximo, por exemplo.
Neste sentido, os estudos realizados por Smith citam que o maior impulsionador do sentimento de pertença para os humanos é quando experienciamos “relacionamentos próximos”. Os relacionamentos íntimos acontecem através de interações consistentes e não negativas.
Ora, num hotel, nove em cada dez pessoas que conhecemos irão embora nos próximos dias, sem nenhuma esperança de intimidade consistente. Embora os hotéis sejam um ótimo lugar para nos conectarmos, a nossa mente deseja consistência e algo mais profundo.
Por este motivo, viajar em grupo ajuda-nos a experienciar o sentimento de pertença através de relacionamentos que nos são próximos.

O que podemos fazer para lidar com estas sensações?
A falta de um propósito durante a viagem não será uma surpresa para muitas pessoas. Já deu por si com a sensação de que falta qualquer coisa quando pensa numa semana num resort sem tempo dedicado à sua carreira, por exemplo?
Voltando ao livro referido, estudos mostram que, quando as pessoas começam a adotar estilos de vida em que ninguém conta com elas, seja família, colegas de trabalho ou estranhos, os níveis de qualidade de vida começam a cair.
Demora alguns dias ou uma semana inteira, mas a nossa mente capta a ausência do sentimento de pertença e do propósito. É assim que a “crise a meio da viagem” surge e, de repente, começamos a pensar: “estou pronto para ir para casa”.

Como resolvemos a crise no meio da viagem?
Curiosamente, um dos estudos que a autora cita no seu trabalho revela que a autocomplacência é fundamental para desfrutar de uma vida com altos níveis de qualidade. No entanto, os investigadores também descobriram que as pessoas que investem estritamente nesta tendência para desculpar os próprios erros e defeitos, classificaram-se como muito felizes, mas por apenas cinco dias. A partir daqui a qualidade de vida caiu para o nível mais baixo no estudo.
Neste estudo, as pessoas que acabaram por apresentar uma maior qualidade de vida foram aquelas que tinham autocomplacência e algum tipo de propósito no seu dia. Aplicando esta ideia às férias, pode ser algo como: divirta-se muito e faça algo que goste!

Como podemos pôr isto em prática? A seguir, reunimos alguns exemplos sobre como podemos combinar o propósito e o sentimento de pertença durante as suas férias.
Viajar em grupo ou em família ajuda a criar um sentimento de pertença com interação consistente. No entanto, perdemos o nosso sentido de liberdade. Estudos demonstram que os níveis de felicidade e de satisfação com a vida são baseados nas nossas expectativas relativamente às experiências que esperamos ter. Se viaja em grupo, planeie e defina o que gostaria de fazer. Além disso, procure fazer a sua rotina do dia-a-dia. Fazer a corrida matinal normal, tomar o pequeno-almoço ou manter o hábito da leitura, dá-nos uma sensação de normalidade que permite uma sensação de produtividade e propósito durante o dia.
Um outro exemplo, prende-se com o voluntariado. Já pensou fazê-lo durante uma viagem? O voluntariado, quando feito em grupo, conduz-nos ao sentimento de pertença e, tendo em conta que existe uma causa, dar-nos-á o sentido de propósito. Neste caso, em férias ou viagem, o voluntariado pode ser numa vinícola, num restaurante ou num bar.
Quanto à duração das férias, viajar por um período de tempo mais curto não resolve, de facto, o sentimento de pertença ou propósito, mas ajuda-nos a evitar a sua necessidade. A viagem de cinco dias permite-nos um equilíbrio entre o divertimento e a altura do regresso a casa, antes de começarmos a sentir a falta daqueles dois aspectos.
Ao contrário da sugestão acima, viajar por longos períodos de tempo, como seis meses, por exemplo, pode ajudar-nos a cumprir, não só o sentimento de pertença, mas também o propósito. Isto acontece porque podemos fazer amizades com os locais e teremos de adotar um estilo de vida normal, como ter uma rotina, fazer voluntariado, ter um trabalho paralelo ou remoto. Desta forma, sentir-nos-emos mais produtivos e com um propósito.

Posto isto, obviamente que nem todos nos sentimos assim. No entanto, para aqueles que o sentem, poderá ser útil compreender o porquê de se sentirem assim, criando a oportunidade de planear férias ou viagens que atendam as suas necessidades.
As sugestões acima são apenas isso, sugestões. Provavelmente existem infinitas maneiras de criar a viagem que deseja e que precisa. Seja criativo!

Fonte: Smith E. E. (2017). The power of meaning : crafting a life that matters. Rider Books.

Cristiana Pereira
Cristiana PereiraPsicóloga Clínica

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2023-07-26T20:28:52+01:0026 de Julho, 2023|
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