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Autor: Helena Almeida

Ansiedade de separação na infância
(ou quando 5 minutos são demasiado tempo para estar longe)

O desenvolvimento infantil prevê etapas em que é expectável que a criança manifeste ansiedade ao afastar-se das suas figuras de referência. Por exemplo, um bebé tende a chorar ao sair do colo da mãe ou perante um estranho, ou viver com angústia a ida para a creche.

Num afastamento prolongado, tal como uma viagem de trabalho ou de férias, é natural que a criança verbalize saudades, manifeste algumas alterações de comportamento, chore à hora de ir para a cama, ou apresente queixas somáticas tais como dores de barriga.

Quando estamos na presença de transtorno de ansiedade de separação, estas vivências intensificam-se dramaticamente e expressam-se em situações onde o afastamento não justifica a intensidade do comportamento ansioso.

A ansiedade de separação é um transtorno típico na infância, com maior incidência em crianças entre os cinco e os 12 anos; caracteriza-se pela vivência de ansiedade intensa em momentos de separação das principais figuras de vinculação, tipicamente os pais.

A ida para a escola, ficar em casa de um familiar ou na festa de anos de um amigo, que antes ocorriam com normalidade e até entusiasmo, passam a ser momentos vividos com intensa carga negativa, muitas vezes verbalizada como saudades. Da mesma forma, estar sozinho no quarto pode ser difícil, associando-se à vivência de medo acompanhado por crenças de que existem coisas assustadoras e reforçando a necessidade de estar perto do pai ou da mãe.

A hora do deitar é outro período crítico, se permanecer no seu quarto sozinho por si só já é ansiogénico (que cria ansiedade), o adormecer significa ficar à mercê dos medos. É comum que a criança queira adiar a ida para a cama, peça para dormir com os pais ou tenha o sono interrompido por pesadelos. Não são incomuns nestes quadros as enureses nocturnas (perda involuntária de urina durante o sono).

Tudo isto tende a afectar de forma mais ou menos intensa as rotinas familiares: atrasos na saída para a escola e para o trabalho, preocupação permanente dos pais, que muitas vezes alteram planos para sair ou as rotinas já estabelecidas. Do mesmo modo, uma ou mais áreas da vida da criança podem ser comprometidas, nomeadamente a dimensão académica e a social, se houver recusa em relação à escola e evitamento em estar com os amigos.

Contrariamente ao que se pode pensar, este transtorno é mais comum em famílias presentes e com fortes laços afectivos. Alterações na vida da criança ou perdas recentes podem ser um factor precipitante. Frequentemente a conjuntura social alimenta os receios das crianças. Tal é o caso do momento presente no nosso país. Raro é o telejornal que não fala das dificuldades económicas que as famílias atravessam e de como para muitas a emigração é uma realidade. Quantas das nossas crianças não terão um colega de escola ou alguém conhecido que emigrou ou com um dos progenitores a residir longe?

A questão que se impõe é: o que fazer? Como agir perante as ansiedades e medos dos nossos filhos?

– Em primeiro lugar, é importante não reforçar o comportamento ansioso com procedimentos que tendem a validar e fortalecer a ansiedade e representam ganhos secundários para a criança (como deixá-la dormir na cama dos pais, reorganizar as rotinas para evitar momentos de separação ditos normais como idas ao supermercado, permitir que falte à escola ou ir ter com ela à hora de almoço).

– Sempre que seja necessário os pais ausentarem-se, devem explicar onde vão e a que horas regressam, prevendo desde logo algum atraso ou contratempo que surja.

– O momento das despedidas deve ser o mais natural possível e até remetendo para aspectos positivos da ida à escola ou festa de aniversário, por exemplo. É frequente cairmos na tentação de repreender a criança quando chora ou “faz birra” perante a separação – o risco destas verbalizações é a validação das crenças associadas à ansiedade.

– Desmistifique as crenças negativas associadas ao que se ouve nos órgãos de comunicação social ou mesmo às experiências de outros próximos. Se necessário, evite que a criança assista a notícias que reenviam para temas ansiogénicos como a emigração, doenças, acidentes, etc.

– Perante o medo de acidentes ou doenças que podem ser fatais, é importante reforçar as medidas de segurança e cuidados para os evitar, e não sublinhar a nossa incapacidade para prever o futuro ou impotência perante alguns eventos.

A vivência de ansiedade extrema na infância é prejudicial ao desenvolvimento e pode levar à cristalização de padrões relacionais desadequados. Se precisar de ajuda, o recurso a um psicólogo contribuirá para a resolução mais célere e eficaz do problema.