Impacto da Contraceção Hormonal Combinada no Desejo Sexual Feminino

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Impacto da contraceção hormonalO conceito de desejo sexual é subjetivo e difícil de definir. Na DSM-V a Perturbação de desejo sexual já não existe como patologia, tendo sido substituída pela Perturbação do interesse/excitação sexual. Mas a queixa que surge em consulta continua a ser a diminuição de desejo sexual.

A diminuição de desejo sexual vem muitas vezes associada à toma de contraceção, o que leva, não raras vezes, à sua suspensão.

O desejo sexual resulta da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. No que toca aos biológicos, sabe-se que os neurotransmissores e hormonas sexuais têm um papel importante. A dopamina é o neurotransmissor fundamental do desejo e a testosterona a principal hormona a influenciá-lo, estando envolvida na iniciação da atividade sexual, enquanto a progesterona na recetividade pelo parceiro.

Nesta componente biológica do desejo, os contracetivos hormonais combinados(CHC) são um ponto importante a ter em conta. São constituídos por hormonas femininas sintéticas, que podem ser administradas por via oral, transdérmica ou vaginal.

Atuam na hipófise, impedindo a libertação de gonadotrofinas, ocorrendo uma diminuição dos níveis de Hormona Folículo Estimulante (FSH) e da Hormona Luteinizante (LH), o que  impede a maturação folicular ovárica e a produção de estradiol. Consequentemente não vai ocorrer o pico de LH, que desencadeia a ovulação nem a formação de corpo amarelo responsável pela produção de progesterona.

As consequências dos contracetivos hormonais na resposta sexual feminina tem sido alvo de debate. Existem mesmo autores, que ao relacionarem a sua utilização crónica com disfunção sexual feminina, sugerem que se pare a sua toma durante a terapia sexual.

Tendo em conta este panorama, os novos CHC têm tido menor dosagem de etinilestradiol – que está associado a níveis baixos de testosterona biologicamente ativa – e progestativos mais seletivos, com o objetivo de minimizar os efeitos secundários desfavoráveis associados aos esteroides. No entanto, esta diminuição de dosagem também pode acarretar mau controlo do ciclo e secura vaginal. Para minimizar o dano, surgiram recentemente formulações em que o etinilestradiol foi substituído por estradiol e valerato de estradiol, que são quimicamente semelhantes ao estradiol natural, não existindo ainda estudos que mostrem o seu impacto na resposta sexual feminina.

Muito mais há para estudar neste campo, nomeadamente qual é o tipo de população em que o efeito negativo dos CHC tem maior probabilidade de ocorrer. É por isso, fundamental, que na prática clínica seja tido em conta este âmbito, e se trabalhe numa rede multidisciplinar, por forma a intervir para o bem-estar da mulher em todas as suas vertentes.

Rita Torres
Rita TorresPsicóloga Clínica
2018-06-22T19:35:46+01:0011 de Julho, 2018|
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