Perturbação de Escoriação

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Perturbação de Escoriação

Perturbação de EscoriaçãoA Perturbação de Escoriação, ou skin picking, é pouco falada. Mas não foi por acaso que foi sublinhada na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, integrando o capítulo de Perturbação Obsessivo- Compulsiva e Perturbações Relacionadas. De acordo com dados da American Association of Psychology, sabe-se que afeta cerca de 1.4% da população, sendo cerca de dois terços do sexo feminino. E o mais importante: causa um enorme sofrimento. Deve, por isto, deixar de passar despercebida.

Deixamos-lhe então o perfil desta perturbação, para a melhor identificar e pedir ajuda no caso de se rever neste artigo, ou conhecer alguém com esta perturbação.

Definição

Tem como principal característica a indução de escoriações pelo ato de coçar, picar, beliscar ou qualquer outro modo de raspar a pele, que se torna incontrolável. A diferença entre esta perturbação e o escoriar normal de algumas imperfeições da pele, é que o comportamento de escoriação é crónico, incontrolável, resulta em lesões graves da pele e gera uma distress significativo.

Sintomas 

Atos repetitivos e incontroláveis de arranhar, beliscar, picar ou até morder são o que mais caracteriza esta perturbação. Pode dar-se em várias partes do corpo, mas ocorre mais frequentemente na cara, mãos, dedos, braços e pernas, causando lesões, feridas, cicatrizes e infecções. Normalmente, é uma condição com elevados índices de cronicidade, embora possa estar mais latente durante determinados períodos.

Quem sofre desta perturbação apresenta com maior frequência sintomatologia ansiosa e depressiva concomitante. Sentem-se também envergonhados e com medo de exposição, tentando esconder a pele maltratada com maquilhagem ou excesso de roupa. Usualmente, o skin picking é um ato solitário, ou, no máximo, acontece junto de familiares muito próximos. Como se pode depreender, este transtorno interfere negativamente em várias esferas, resultando em relações sociais que se tornam desconfortáveis e difíceis de manter. 

A Perturbação de Escoriação não resulta de outras condições médicas ou perturbações psiquiátricas. Pode haver comorbilidade com outras doenças dermatológicas, doenças auto-imunes ou transtornos desenvolvimentais, como é o caso do autismo.

Causas

O temperamento, a falta de estratégias de coping para lidar com o stress, bem como a idade parecem ser factores importantes no desenvolvimento deste transtorno. Normalmente, o inicio da perturbação dá-se na adolescência, e parece estar associada ao perfeccionismo, sendo  o skin picking um meio de reduzir a tensão e mau-estar que resultam da dificuldade em gerir emoções como a frustração, tristeza, ansiedade e até o aborrecimento. 

Vários estudos revelam que pessoas que sofrem desta perturbação têm maior probabilidade de terem sofrido experiências difíceis com as figuras de vinculação, e de apresentarem história de abuso e agressões. No caso das mulheres, existe maior probabilidade de terem sofrido abuso sexual durante a infância/ adolescência.

Alguns dados das neurociências podem ajudar a explicar as bases genéticas e orgânicas desta patologia. Práticas semelhantes à escoriação têm sido designadas como grooming disorders ( grooming  significa limpar/cuidar em português), uma vez que lembram comportamentos repetitivos observados em animais ao lamber as patas e arrancar as penas. O grooming é um comportamento inato nos animais, incluindo nos humanos, e pode tornar-se compulsivo e excessivo, causando lesões. O grooming patológico em animais foi estudado e os resultados revelaram alterações genéticas e deficiências nos níveis de serotonina, dopamina e glutamato. 

Tratamento

Normalmente, as tentativas independentes de parar o comportamento são infrutíferas. Por outro lado, a vergonha associada a esta perturbação dificulta o pedido de ajuda profissional. No âmbito da psicoterapia, os estudos têm revelado que uma abordagem integrativa, composta por elementos da terapia cognitivo-comportamento, terapia da aceitação e compromisso, bem como a terapia de reversão do hábito – muito semelhante à intervenção na tricotilomania – reduzem os sintomas do skin picking. 

Relativamente aos psicofármacos, embora não exista medicação especificamente indicada para este transtorno, sabe-se que alguns anti-depressivos, tal como os inibidores de recaptação de serotonina, podem ajudar.

Fontes:

Coginotti, I. & Reis, A. (2016). Transtorno de Escoriação (Skin Picking): Revisão da Literatura. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 12(2), 64-72.

http://www.bfrb.org/learn-about-bfrbs

Rita Torres
Rita TorresPsicóloga Clínica
2018-09-18T16:34:31+01:0018 de Setembro, 2018|
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