Viver com mais vagar

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Viver com mais vagarViver com mais vagar

No mundo actual de competição e impaciência, temos de fazer mais, mais rápido e melhor, parece que sobrar tempo é desperdiçá-lo. Não há tempo para relaxar, para vivenciar, apenas para fazer, mostrar resultados.

Estes níveis de exigência muito elevados, para fazer, para ter e mostrar, leva-nos muitas vezes a situações de stress, e cada vez são mais visíveis os efeitos devastadores que o stresstem para a saúde. Estamos presos a estas exigências do quotidiano, do emprego, da família, e vemo-nos com pouca liberdade para escolher como queremos usar o nosso tempo.

Atingir níveis elevados de stresse até burnout deixam marcas profundas e têm custos elevados para a nossa saúde, vida social, relações, e bem-estar. Nesta corrida contra o tempo, acabamos por perder sempre. Acumulamos tarefas, que muitas vezes nem são assim tão benéficas ou prazerosas, mas ao ocuparmo-nos ficamos com aquela sensação de utilidade, produtividade e contribuição.

Ora, isto é contraproducente. Ter momentos de pausa é essencial para recuperar energia, estimular a criatividade, e até a produtividade.

O movimento slow, iniciado em Itália em 1986, pela slow food, coloca a sua essência no tempo, distinguindo-o como o bem imaterial mais precioso que temos, porque ele passa e não voltamos a recuperá-lo. E apesar de ser o bem mais justamente distribuído, parece que para alguns o tempo não é suficiente para tudo, sempre com pressa e sempre ocupados.

No slow living, a percepção é de que o tempo abranda, a vida é vivida mais devagar. Muitas pessoas aderem a este movimento, deixam as vidas que tinham, de deadlines, atrasos, stresse iniciam projectos com outros ritmos, que lhes dão tempo para apreciar a vida. As tarefas são feitas com mais vagar, os momentos são mais apreciados, existe espaço para coisas tão importantes como cuidar de si, estar em família, ou simplesmente para algo tão vital, como um respirar relaxado.

Claro que nem tomos temos de mudar radicalmente de vida, mas existem pequenas mudanças que podemos introduzir no nosso dia-a-dia. Ficam aqui algumas sugestões:

– desligue! Deixe o modo online, não precisa de estar em alerta permanente; observe o mundo fora das telas, acredite que é igualmente intenso! Basta existir disponibilidade para captar essa energia.

– ligue-se à natureza; está provado que apenas o contacto visual com elementos da natureza melhora a saúde e baixa níveis de stress, e isto eleva-se significativamente quando o contacto é físico.

– pare uns minutos aprecie a beleza à sua volta diariamente; repare na árvore da sua rua, e nos pássaros que lá namoram, nas nuvens no céu, faça um caminho diferente para o trabalho e veja coisas novas.

– cuide de si: o sono, a alimentação, exercício, são grandes pilares da sua saúde, física e psicológica, e é fundamental que os tenha regulados. Mas não só, tirar um tempo na semana para fazer algo que lhe dê prazer, dá um boost de energia para o resto da semana.

– cuide dos seus: as relações positivas com pessoas significativas são um grande protetor de saúde mental. Surpreenda a sua mãe com uma flor, um jantar romântico com o seu par, uma brincadeira com as crianças, um jantar com os amigos.

– pratique mindfulness; para aprender a viver no aqui e no agora, sem a apreensão do que pode acontecer no futuro nem a mágoa do que aconteceu no passado.

– estabeleça objetivos realistas a curto e longo prazo e seja assertivo/a nas suas decisões; dê um rumo às suas vivências, vai ter mais controlo na forma como vive a sua vida; e não se esqueça de celebrar as pequenas vitórias.

– negoceie: horários, prazos, pedidos, peça ajuda também. Não precisa ser o/a super-herói/na, lembre-se que o tempo passa, e a maneira como usamos o tempo é essencial para sentirmos a vida que precisa de ser vivida e não corrida.

Inês Ponte
Inês PontePsicóloga Clínica OP Setúbal
2024-04-24T14:31:01+01:0029 de Agosto, 2018|
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