O Feto Precioso e o Luto

Tempo de Leitura: 6 min

O Feto Precioso e o LutoO Feto Precioso e o Luto

Joana tem 30 anos, está casada há 8 anos, é muito apaixonada pelo seu marido, tem um trabalho do qual gosta muito e uma vida quase perfeita. Joana não tem filhos e tem procurado todo o tipo de ajudas (clínica) para o conseguir, pois é o seu maior desejo desde que se casou.

Joana está grávida de 25 semanas (seis meses), já é a 4a gravidez e a mesma não conseguiu levar às gravidezes anteriores até ao fim. Joana tem sofrido abortos (sem uma explicação científica) entre às 27 e às 30 (7 meses) semanas gestacionais. Facto esse que provoca uma instabilidade emocional notando-se as seguintes reacções: desespero, medo, insegurança, baixa auto-estima, sentimento de incompetência, provocando uma sensação de fracasso a cada nova gravidez e perdas sucessivas. Neste momento a Joana deu entrada nos serviços de urgência com uma crise de pânico, por isso teve de ser internada…neste quadro, podemos subentender que a mesma já  está a antecipar (projectar) inconscientemente o que tem acontecido, ou seja, a perda de mais um bebé…

A perda

Lidar com perda é uma experiência humana, mas cada um de nós lida de forma única e por isso mesmo diferente. Só nós sabemos o que passamos, mas poder contar com o apoio dos outros faz com que esse tempo (processo de luto) se torne mais leve.

Quando perdemos alguém ou algo importante na nossa vida, passamos por um período de adaptação para elaborar essa perda até voltarmos a interessar-nos como antes pela nossa própria vida. O luto é um processo necessário e fundamental para preencher o vazio deixado por qualquer perda significativa não apenas de alguém, mas também de algo importante, como: objecto, viagem, emprego/carreira, ideia, relacionamentos, mudanças de cidade/casa, etc.

As tarefas do processo de luto

O trabalho de luto é dividido em quatro tarefas e não é linear, ou seja, a maioria das pessoas não as elabora uma atrás da outra sequencialmente, essas tarefas podem ser feitas de forma alternada. A pessoa pode fazer e concluir uma e pular a tarefa seguinte, mas elaborar e concluir a seguinte.

Deste modo, podemos afirmar que a pessoa completou o trabalho de luto, quando o indivíduo desempenhou às seguintes tarefas: I – Aceitar a realidade da perda; II – Elaborar a dor da perda; III – Ajustar-se a um ambiente onde a pessoa que faleceu não está e IV – Reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar a sua vida.

Como o podemos entender no caso da Joana?

Vejamos:

  • Na 1ª tarefa – aceitar a realidade da perda -, “eu estou bem, não se preocupem só não quero desfazer-me do quarto do bebé…” sensação de que a morte não aconteceu, aceitar a realidade da perda leva tempo, porque não é só a aceitação intelectual, mas a emocional também.
  • Na 2ª tarefa – elaborar a dor da perda –, “eu já não penso no que aconteceu, passou…mas preciso de medicação porque acho que tenho tido princípios de ataque cardíaco “a  dor do luto precisa ser reconhecida e elaborada, caso contrário, a dor se manifestará por meio de alguns sintomas, ou seja, alterações na saúde física e emocional.
  • Na 3ª tarefa – ajustar-se a um ambiente onde a pessoa que faleceu não está –, “ir a igreja?! Orar?! para quê?… ELE abandonou-me, ELE permitiu que tal me acontecesse…um ser indefeso…” uma pessoa em situação de luto poderá  sentir-se perdida, as suas crenças e os seus valores poderão mudar diante da perda de um ente querido.
  • A e última tarefa é – reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar à vida –, “Já ultrapassamos, vamos tentar novamente, nunca iremos pensar em substituir o nosso filho, mas tentaremos/teremos outro  filho, o que aconteceu teve uma razão, há sempre uma razão para tudo …” Reposicionar a pessoa significa não esquecer o ente querido que morreu, mas permitir que, mesmo com a morte de uma pessoa amada, o enlutado continue a viver bem no mundo. Reposicionar é continuar em contacto com os pensamentos e lembranças associados ao filho que se perdeu e fazer isso de forma que, permita aos pais continuar as suas vidas, apesar da perda e assim, continuar a reinvestir na vida.

O luto é um sentimento individual, não existe um tempo para passar por ele. Elaborar um luto não significa esquecer o ente querido, ter um luto elaborado significa que mesmo a perda sendo para sempre, a pessoa consegue retomar as suas actividades quotidianas, não será mais a mesma pessoa, ela precisa se reestruturar com o novo mundo que tem agora. Assim, ao elaborar o luto, a vida fica mais voltada a restauração, mas não deixará de vivenciar a perda também. As oscilações serão menores, mas ainda acontecerão.

Assim, o papel do psicólogo é identificar e ajudar a pensar junto com o paciente o estágio em que se encontra. A resolução da tarefa exige a vivência de sentimentos e pensamentos que o indivíduo evitava. A tarefa do psicólogo é permitir que o paciente vivencie o luto. Independentemente da tarefa do luto, a terapia actua de forma indispensável como ferramenta de reorganização psicológica para dar suporte ao paciente a superar o sofrimento. A partir do tratamento, é possível compreender como lidar com seus sentimentos, novos conflitos e que não há certo ou errado na forma como se encara a vida ou se expressa a dor. Por ser uma experiência individual, o processo do luto não possui uma duração estabelecida. Pode durar um ano, décadas ou nunca encerrar o ciclo.

Aprender a lidar com cada tarefa é necessário para ter forças e se conseguir adaptar à nova vida, para seguir em frente.

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25 de Março, 2019

Graça
20 de Março, 2019

Excelente texto. Vou adaptar e trabalhar com mães e filhos de inclusão. O processo de luto e aceitação é o mesmo.

Caroline
Nice da Rocha
Nice da RochaPsicóloga Clínica;

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    2019-03-19T20:22:53+00:0020 de Março, 2019|
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