Férias, para que vos quero?

Tempo de Leitura: 7 min

Ferias para que vos queroNo mundo agitado de hoje, onde o ritmo acelerado da vida muitas vezes nos consome, é fácil esquecer a importância de cuidar de nós mesmos. As exigências do trabalho, responsabilidades familiares e a constante ligação ao mundo digital têm um impacto significativo no nosso bem-estar, recursos físicos e capacidade cognitiva, podendo resultar em sofrimento emocional, problemas de desempenho e outros resultados adversos. Os avanços tecnológicos exacerbaram este problema, uma vez que, não só aumentaram o ritmo e a intensidade do trabalho, mas também alteraram os limites da semana de trabalho, sendo este agora acessível em todo o lado e a qualquer hora. No entanto, existe uma solução simples e eficaz para recuperar o nosso bem-estar: as férias.

As férias não são apenas um luxo ou um mero capricho, no entanto, muitos de nós tendem a subestimar a sua importância e, consequentemente, a negligenciar a oportunidade de recarregar baterias e revitalizar a nossa saúde física e mental. Está na hora de colocar o seu bem-estar em primeiro lugar e abraçar a essência revigorante das férias! Vamos lá?

Restauração da Atenção

Em primeiro lugar, vamos falar um pouco acerca da Teoria da Restauração da Atenção. Esta teoria defende que a capacidade para continuamente focarmos a atenção numa tarefa ou atividade particular fica reduzida ou é perdida através da exaustão mental. Este estado é denominado por “fadiga da atenção dirigida” e pode resultar em capacidades diminuídas para desempenhar tarefas cognitivas, assim como dificuldades na regulação das nossas emoções. De acordo com Kaplan (1995), existem quatro atributos ambientais que são considerados importantes para a recuperação da fadiga da atenção dirigida:

  • Fascínio – o ambiente encoraja o envolvimento sem esforço, evitando assim a necessidade de inibir as distrações e permitindo que a atenção dirigida possa descansar;
  • Estar fora – estar fisicamente ou mentalmente distanciado das exigências da vida quotidiana;
  • Extensão – o ambiente tem conteúdo e estrutura suficiente para ocupar a mente for um período extenso;
  • Compatibilidade – o ambiente ser compatível com os propósitos e inclinações da pessoa.

A investigação tem vindo a comprovar a eficácia dos ambientes com estes atributos, tendo chegado a conclusões como o facto de os ambientes naturais reduzirem o stress, acelerarem a recuperação de cirurgias e funcionarem como um “calmante natural”. Adicionalmente, existem evidências de que outros tipos de ambiente também proporcionam os atributos necessários a esta restauração, como é o caso de museus, aquários, jardins botânicos, locais religiosos e retiros espirituais.

Benefícios das férias

Os efeitos benéficos das férias têm sido bem documentados e incluem a redução da exaustão emocional e burnout, menor absentismo, maior envolvimento com o trabalho e maior saúde, bem-estar, satisfação com a vida e qualidade de vida. Apesar disto, a verdade é que os efeitos benéficos das férias têm vindo a ser considerados pouco duradouros, tendo durações de 3 a 4 semanas, regressando, posteriormente, as medidas de stress e burnout aos valores pré-férias.

Vários estudos têm explorado de que forma a duração das férias tem impacto em medidas de saúde e bem-estar, com a maioria descobrindo impactos pequenos ou nulos. Assim, parece que as atividades ou experiências em que as pessoas se envolvem são mais importantes que a quantidade de tempo que estão de férias.

Num estudo de Packer (2020), foi possível perceber que tirar umas férias curtas (3 a 4 dias fora de casa) ou férias longas (1 a 5 semanas fora de casa) permite atingir benefícios restauradores. O efeito no desempenho cognitivo foi particularmente importante, tal como na capacidade de focar a atenção numa tarefa, trazendo benefícios ao desempenho laboral e bem-estar emocional. Algumas das medidas cognitivas sugeriram que férias mais curtas podem ser mais eficazes do que férias longas na facilitação da recuperação da capacidade de focar a atenção.

Algumas questões particulares, podem ajudar a explicar o motivo pelo qual as férias mais curtas parecem “ganhar” às longas, ora vejamos:

  • É mais provável que as pessoas se dediquem ao trabalho ou a atividades semelhantes (por exemplo, atividades de manutenção ou relacionadas com TI) durante umas férias mais longas do que durante uma pausa curta, influenciando assim a sua perceção de estar mentalmente longe;
  • A influência de estar “fisicamente longe” é relevante, uma vez que as pessoas se sentem livres de obrigações e rotinas. Estar num ambiente relativamente familiar é mais reparador do que um ambiente desconhecido (que pode aumentar os níveis de stress). Uma curta pausa de alguns dias num destino favorito ou familiar pode contribuir mais para a recuperação da atenção e de outras capacidades cognitivas do que umas férias mais longas num ambiente novo, mas possivelmente gerador de stress.
  • Férias longas podem ser sinónimo de grande acumulação de trabalho, no regresso, o que pode rapidamente influenciar negativamente os benefícios restauradores das férias.

Estratégias para recarregar a atenção

Como podemos, então, tirar o melhor partido possível dos tempos de férias, de forma a garantir que estas são restauradoras e reparadoras da nossa atenção e bem-estar em geral? Ficam as dicas:

  • Escolha um ambiente que lhe permita sentir-se distante da sua rotina diária e obrigações do dia-a-dia, sentindo-se, em simultâneo, confortável e seguro(a) no ambiente em que se encontra;
  • Evite locais que sinta como confusos, caóticos ou muito movimentados;
  • Passe tempo em atividades que permitam o fascínio, prendendo a sua atenção sem esforço, permitindo espaço mental para se envolver em reflexões, como por exemplo, passear na natureza;
  • Desligue-se do trabalho intencionalmente durante o período de férias;
  • Limite a quantidade de tempo que gasta em atividades que se assemelhem a trabalho (por exemplo, compras, limpezas, conduzir, usar o telefone ou computador, etc.);
  • Evite situações em que seja provável sentir stress ou tensão (por exemplo, conflitos interpessoais, trânsito, horários rígidos, etc.);
  • Tente gerir o regresso ao trabalho de forma a que não regresse para encontrar uma quantidade de trabalho demasiado grande ou avassaladora;
  • Considere tirar múltiplas férias mais curtas ao longo do ano, em vez de umas férias únicas e longas.

Referências:

Härmä, M. (2006). Workhours in relation to work stress, recovery and health. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health, 32(6), 502–514.

Hartig, T., Catalano, R., Ong, M., & Syme, S. L. (2013). Vacation, collective restoration, and
mental health in a population. Society and Mental Health, 3(3), 221–236.

Kaplan, S. (1995). The restorative benefits of nature: Toward an integrative framework.
Journal of Environmental Psychology, 15, 169–182.

Packer, J. (2021). Taking a break: Exploring the restorative benefits of short breaks and vacations. Annals of Tourism Research Empirical Insights, 2, http://dx.doi.org/10.1016/j.annale.2020.100006

Westman, M., & Eden, D. (1997). Effects of a respite from work on burnout: Vacation relief and fade out. Journal of Applied Psychology, 82, 516–527.

Ana Lúcia Domingues
Ana Lúcia DominguesPsicologia Clínica e Psicoterapia

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2023-07-11T12:26:50+01:0011 de Julho, 2023|
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