Desde o primeiro momento em que uma criança entra no sistema de ensino em Portugal, é-lhe atribuída de imediato uma letra, uma palavra ou um número para avaliar o quão competente é na escola. O resultado disso são crianças que passam o ensino escolar obrigatório a sentir-se presas dentro de uma escala de avaliação, que no melhor dos momentos, reflete aprendizagem, conhecimento e obtenção de cultura geral, mas no pior dos cenários, reflete apenas capacidade de memorização e a retenção temporária de informação que dificilmente será utilizada na sua vida futura. Resultados que pouco ou nada dizem sobre quem são.
Isto não deve ser tomado de ânimo leve, porque a passagem das crianças pelas escolas é possivelmente, a etapa mais importante da sua vida. Na escola aprendem regras de convívio com os outros, formam as primeiras amizades, desenvolvem competências cognitivas, responsabilidade, autonomia e, idealmente, muitas outras. É exatamente, por ter um papel tão significativo nas gerações de seres humanos que vão moldar o futuro, que se exige tanto e tão melhor do que aquilo que temos neste momento.
O aproveitamento escolar parece ser muito associado pelas escolas, pais, famílias, e até pelos próprios jovens, à qualidade de futuro que terão. Esta mentalidade parece criar, consequentemente, um mundo onde se liga o desempenho escolar dos alunos, ao seu valor enquanto pessoas, não havendo uma distinção concreta entre estes dois conceitos. O impacto emocional que este tipo de pensamento pode ter é muitas vezes subestimado: quer seja uma descida de nota no teste de um aluno exemplar, que foi ensinado a sentir que nada abaixo de 90% é aceitável, quer do “mau aluno” que recebe mais uma nota negativa, e que se vê como inútil, sentindo que nunca vai alcançar melhores resultados porque o mundo à sua volta foi-lhe passando a mensagem de que era um caso perdido.
Estas referidas descidas nas avaliações escolares são, geralmente, o primeiro aspeto que os pais, professores e os próprios profissionais de saúde, vêem como sinal de alerta para a existência de um problema. É verdade que as notas são um indicador, que se tem provado útil na sinalização de problemáticas em idades mais jovens, mas estão longe de ser o único indicador. Os adultos caem muitas vezes no erro de estar tão preocupados com o que as descidas na pauta podem indicar sobre o futuro das crianças, que se esquecem de viver o presente, e perceber aquilo que elas estão a pensar e a sentir nessas situações, ou mesmo perguntar o que precisam ou como podem ajudar.
Devemos, por isso, estar mais atentos a aspectos cognitivos (atitudes, crenças e motivações sobre a educação) e emocionais, não apenas aos resultados. Devemos participar nas soluções em vez de focar apenas nos problemas, assim como dar-lhes um papel de participação nestas soluções e não assumir sempre que sabemos qual é a melhor escolha para eles. Por último, e talvez o mais crucial, olhar para eles como pessoas em vez de alunos, humanizando o sistema de ensino enquanto sociedade para que haja mudanças reais e globais na forma de pensar e agir.
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