E o que corre bem?

Tempo de Leitura: 7 min

E o que corre bem? Como o nosso olhar, as nossas expetativas e as relações de suporte influenciam o nosso bem-estar, saúde e sucesso.

Curiosidade!

“Sabia que… O ser humano tem uma tendência inata para processar e recordar de forma assimétrica a informação negativa comparativamente à informação positiva?”(1)

001 Artigo - E o que corre bemAs notícias que recebemos, as críticas e os acontecimentos de vida que são avaliados, por nós, como negativos, têm um maior impacto comparativamente a um elogio, uma frase de apreço ou mesmo uma promoção no trabalho. Tendemos a viver e a “saborear” de forma mais intensa as emoções desagradáveis como a zanga, a tristeza e o medo comparativamente à alegria, à calma e ao entusiasmo. E por mais que isto possa não parecer saudável, a verdade é que se trata de um mecanismo biológico, inato, que se desenvolve desde tenra idade e que serve o seu propósito de nos proteger dos perigos do meio em que estamos inseridos (2). Mas qual é o impacto de mantermos este viés negativo no nosso dia-a-dia, nas nossas vidas e na parentalidade?

O nosso autoconceito e a nossa autoestima têm os seus alicerces nas relações que estabelecemos, em particular, com as nossas figuras de vinculação/referência, habitualmente os nossos pais. Agimos em consonância com as expetativas que temos para nós próprios, em termos dos resultados que cremos ser capazes de atingir, mas também, agimos em consonância com as expetativas que os outros têm sobre nós (3). Por exemplo, se um jovem achar que não é inteligente e vai ter negativa no teste de matemática da próxima terça-feira, independentemente do que faça, é provável que nem estude e acabe mesmo por tirar negativa, o que reforça a sua ideia de que não é, de facto, inteligente!

As crianças e os jovens desenvolvem o seu sentido de si através da relação que estabelecem com os pais, pares e outras figuras significativas. Quando estas figuras desenvolvem um conjunto de expetativas baixas ou inexistentes, isto promove nas crianças e jovens uma sensação de não ter objetivos ou propósito na vida. Esta sensação de propósito é fundamental para que desenvolvam um sentido positivo de si (autoestima saudável), de modo que não se sintam desmotivados e não procurem o seu propósito em comportamentos ou pares desviantes. Por outro lado, se as expetativas forem muito altas ou inatingíveis, podem levar a criança ou jovem a desenvolver uma sobrevalorização da perfeição, a sentirem-se sem poder ou “um falhanço”, se não forem capazes de corresponder a estas expetativas, levando a que muitas acabem por desistir dos seus objetivos sem sequer tentar (4). Encontrar um equilíbrio nas expetativas que temos para as nossas crianças e jovens, de forma que estas sejam realistas, torna-se fundamental para o seu desenvolvimento saudável, pelo impacto que têm na sua autoestima, no seu sentido de competência e valor próprio e, consequentemente, na sua saúde mental, bem-estar e satisfação com a vida(5).

Porém, cada vez mais, o tempo que temos para a família é menor, com todas as exigências laborais, familiares e domésticas que surgem numa sociedade cada vez mais competitiva e focada em resultados. Mas, e o que é que corre bem?

O crescente acesso à informação dá-nos poder! Poder para fazermos diferente e nos destacarmos no meio da multidão.

Sabendo o efeito que as expetativas parentais têm sobre as crianças e, compreendendo o impacto que a positividade das mensagens que transmitimos tem no desenvolvimento da sua autoestima, podemos conscientemente, enquanto pais, adotar uma postura que, contrarie o nosso viés negativo e promova as forças, individualidade e competências singulares das nossas crianças e jovens. Ao reforçar as forças e recursos das crianças e jovens estamos a ajudá-la a desenvolver um bom sentido de competência e valor próprio, a desenvolverem segurança e confiança nas relações que estabelecem com os outros e a ganharem um sentido de independência e responsabilidade própria. Como é que podemos fazer isto? Aceitando os erros que cometem ao longo do caminho, olhando para eles como oportunidades para as crianças e os jovens se descobrirem, crescerem e continuarem a desenvolver todo o seu potencial.

No contexto escolar, ainda que o foco continue a ser nos resultados académicos, cada vez mais sabemos que o mercado laboral procura indivíduos que se destaquem pela sua capacidade comunicativa, relacional, de tolerância à frustração/stress e de gestão emocional – ou seja, competências que vão para além do desempenho académico e que, ainda, pouco se ensinam nas escolas. É aqui que, como pais, podemos fazer a diferença ajudando a nossas crianças e jovens a identificar, compreender e utilizar as suas emoções, i.e., a desenvolver a sua inteligência emocional (6). E, por incrível que pareça, ao desenvolver a inteligência emocional das crianças/jovens, desenvolvemos também a sua autoestima e seu autoconceito, o que tem um impacto positivo nos resultados académicos (7).

Isto significa que, podemos todos combater o nosso viés negativo e, com isto, contribuímos para o desenvolvimento saudável e a saúde mental das nossas crianças e jovens. Isto porque “A positividade é contagiosa, poderosa e atrai mais positividade”. Por isso termino lançando a todos os pais, mães, cuidadores ou cuidadoras o seguinte desafio: Quando os vossos filhos chegarem a casa com uma nota no teste que não era a que eles queriam, nem era aquela que vocês esperavam, permitam-se sentir felicidade pela conquista de mais um teste concluído; elogiem o seu esforço; valorizem a sua postura de partilha; e lembrem-se de todas as outra coisas que estão a correr bem!

No fim de contas, o sucesso na vossa parentalidade, não está na nota que as vossas crianças tiveram a matemática, mas sim no pequeno ser que têm à vossa frente, com todos os seus valores, as suas forças e competências únicas, que irão certamente contribuir para o seu sucesso profissional, pessoal e familiar, no futuro.

Referências Bibliografias (Para Consulta):

1 – Ito, T. A., Larsen, J. T., Smith, N. K., & Cacioppo, J. T. (1998). Negative information weighs more heavily on the brain: the negativity bias in evaluative categorizations. Journal of personality and social psychology, 75(4), 887-900.

2 – Vaish, A., Grossmann, T., & Woodward, A. (2008). Not all emotions are created equal: the negativity bias in social-emotional development. Psychological bulletin, 134(3), 383-403.

3 – Rosenthal, R., & Jacobson, L. (1968). Pygmalion in the classroom. The urban review, 3(1), 16-20.

4 – Newman, S. (2001). Parenting an only child: The joys and challenges of raising your one and only. Harmony.

5 – Marshall, R. L., Harbke, C. R., & DiLalla, L. F. (2021). The Role of Remembered Parenting on Adult Self-Esteem: A Monozygotic Twin Difference Study. Behavior Genetics, 51(2), 125-136.

6 – Mayer, J. D., & Salovey, P. (1997). What is emotional intelligence. Emotional development and emotional intelligence:Educational implications, 3, 3-34.

7 – Román, S., Cuestas, P. J., & Fenollar, P. (2008). An examination of the interrelationships between self‐esteem, others’ expectations, family support, learning approaches and academic achievement. Studies in higher education, 33(2), 127-138.

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Lúcia Fortio
Lúcia FortioPsicóloga Clínica
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2022-07-17T11:50:32+01:0017 de Julho, 2022|
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