“De pequenino é que se encolhe a criatura! Qual criatura? A Criatura Crítica…”

Tempo de Leitura: 4 min

“De pequenino é que se encolhe a criatura!

Qual criatura? A Criatura Crítica…”

“De pequenino é que se encolhe a criatura! Qual criatura? A Criatura Crítica…”Baralhado(a) com o título do artigo? Eu explico tudo.

Sou psicóloga de adultos na Oficina de Psicologia e é comum ouvir os adultos queixarem-se sobre a falta de auto-estima. O meu trabalho é ajudá-los a perceber que, por vezes, a desvalorização esconde um problema de auto-crítica excessiva e desmobilizadora. “Não sou suficiente bom” ou “Não sou capaz” são frases frequentes e que fazem parte do reportório dos adultos. Quando começo a endereçar a auto-crítica pergunto frequentemente donde vem essa voz crítica e negativa. Não menos frequentemente vamos parar à infância do cliente, nas suas relações e aprendizagens, onde ele se lembra de dizer a si próprio ou como os outros lhe transmitiram e explicavam os seus insucessos, de uma forma mais negativa e menos delicada. 

Neste mês que dedicamos à partilha de informação sobre a ansiedade e a depressão nas crianças e nos adolescentes decidi partilhar convosco uma abordagem lúdica, que li recentemente, para ajudar as crianças a lidar com a sua voz interna negativa que se torna rapidamente em auto-critica. Hazel Harrison é a autora responsável por esta abordagem que permite que as crianças passem a olhar de outra forma para os pensamentos negativos sobre si e sobre o seu desempenho e perceber que estes pensamentos não são realidade. 

Nesta abordagem é contada uma história…

 O cérebro é como uma casa com dois pisos (a casa cérebro). No andar de cima vivem os pensadores, os que planeiam e resolvem problemas, os reguladores das emoções, os criativos com outras tantas personagens que são flexíveis e empáticas (este piso corresponde ao Neocortex). Neste piso existe uma personagem, pouco simpática, a Criatura Crítica que se instalou a um canto. Ao princípio ela passa despercebida, tem uma voz calma e ocasionalmente critica. No entanto se começarmos a dar muita atenção a esta criatura e ao que ela diz, ela vai-se tornando maior e vai-se apoderando do espaço, como se esta criatura se alimentasse dos pensamentos negativos e críticos e das palavras pouco incentivadores ou menos simpáticas que vamos ouvindo dos outros. Sempre que damos atenção ao que esta criatura diz ela aumenta e “esmaga” as outras personagens que lá vivem e com elas a sua esperança, flexibilidade, compaixão e generosidade. Torna-se o Grande Bully. Não contente com o piso de cima, passa a ocupar o piso de baixo do cérebro (sistema límbico) dizendo ao Fred Medroso que lá vive que o pânico que sente é natural pois vai correr tudo mal. 

Esta história mostra como a Criatura Crítica afeta a nossa forma de pensar e sentir. É importante que esta história seja adaptada a cada criança e à sua idade. Por exemplo aos 7 anos a Criatura Crítica pode surgir quando não se consegue ganhar uma corrida porque caímos, mais tarde aos 15/16 anos esta Criatura pode estar debaixo da mesa da escola quando vamos fazer um teste a dizer-nos “Não vais conseguir”. Com a atenção que lhe prestamos ela ganha cada vez mais poder e faz-nos sentir inseguros, incapazes mental e emocionalmente para lidar com obstáculos e novos desafios.

Hazel Harrison refere 5 formas de ajudar as crianças a “encolher” a Criatura Crítica:

1 – Peça ao seu filho(a) para dar um nome a essa Criatura. Desta forma permite à criança ganhar distancia e perceber que ela não é a Criatura Crítica.

2 – Faça o teste Best Friend Forever (melhores amigos para sempre) sempre que o seu filho está desmoralizado, desanimado e encoraje-o a ser o seu BFF perguntando: “O que dirias a um amigo se estivesse na tua situação?” “Como o dirias?” Desta forma a criança está a desenvolver a compaixão por si própria.

3 – Encoraje a criança a não deixar a Criatura Crítica sem resposta. Por exemplo quando esta criatura está a dizer “ É demasiado para ti. Não vais conseguir!” A resposta da criança pode ser “Basta! Estou a fazer o meu melhor!”

4 – Chamar reforços numa nova experiência para mostrar à criatura que está errada. Este reforço consiste em rodear-se de pessoas que já passaram pelo mesmo e que o incentivam e dizem “consegues”. 

5 – Criar momentos diários de prática positiva. Todos os dias ajudar o seu filho ou filha a reparar no que conseguiu alcançar por si, “ o que correu bem hoje?” 

O “trabalho” dos pais, dos educadores e dos psicólogos de crianças é fundamental para ajudar as crianças a tornarem-se adolescentes e depois adultos mais confiantes, resilientes, generosos e compassivos. Os psicólogos que trabalham com adultos agradecem.

Sónia Anjos
Sónia AnjosPsicóloga Clínica
2019-07-15T17:11:19+01:0025 de Outubro, 2018|
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