Como falar sobre sexualidade com crianças

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Como falar sobre sexualidade com criançasResponder às perguntas dos seus filhos sobre sexo é uma das responsabilidades que muitos pais temem. Apesar do desconforto que sentem quando têm de falar sobre “de onde vêm os bebés” e sobre a puberdade, é algo que não deve ser evitado. Os pais podem contribuir para o desenvolvimento de sentimentos saudáveis sobre sexualidade se encararem o tema com naturalidade e responderem às questões de forma adequada à idade.

Os progenitores têm tendência a adaptar a linguagem quando comunicam com a criança desde pequenina, contudo a partir dos 5 ou 6 anos, pode utilizar as palavras corretas para descrever os órgãos genitais (exemplos: vulva, vagina, pénis, testículos). Não há razão para não o fazer quando a criança já é capaz de pronunciar este vocabulário. Assim, já estão a lidar com o tema de forma natural e sem vergonha associada. 

Desde muito pequenas as crianças têm curiosidade sobre o seu próprio corpo. Por isso, nos primeiros anos de vida os bebés tocam nos seus órgãos sexuais. A forma como o adulto reage é muito importante. As crianças que recebem reprimendas e castigos por tocarem nos seus órgãos sexuais podem desenvolver uma relação menos saudável relativamente à sua sexualidade. Há pais que preferem ignorar os atos de autoexploração e reorientar a atenção para outra coisa. Outros preferem transmitir a ideia de que não há qualquer problema em fazê-lo, porém como se trata de algo íntimo deverá evitar fazê-lo em público. 

É comum que as crianças brinquem “aos médicos”. Muitos pais reagem de forma desproporcionada quando presenciam ou ouvem falar deste tipo de comportamento. Evite interpretar mal esta brincadeira pensando que poderá levar a comportamentos promíscuos no futuro. Explique à criança que é normal haver interesse por descobrir o corpo dos outros, principalmente quando já percebem as diferenças entre o corpo feminino e masculino, mas que deve manter o seu corpo coberto em público. Assim, ao invés da repreensão, está a ensinar os limites ao seu filho sem o fazer sentir culpado. Esta poderá ser uma oportunidade de explicar as diferentes maneiras que alguém pode tocar no seu corpo. Ou seja, ensinar que ninguém, nem mesmo um amigo ou familiar, tem o direito de tocar nas suas partes íntimas.

Quando a típica pergunta “de onde vêm os bebés” surgir, provavelmente não haverá respostas na ponta da língua, até porque a questão pode surgir quando menos se espera. Dependendo da idade da criança, pode dizer-se que o bebé cresce dentro de um ovo que está dentro da barriga da mãe, e sai através de um lugar especial chamado vagina. Não há necessidade de explicar as relações sexuais, nem entrar em pormenores. De qualquer forma, pode dizer ao seu filho que, quando um homem e uma mulher gostam muito um do outro, gostam de estar muito próximos. Ou para filhos mais crescidos, pode dizer que o esperma do pai se junta ao óvulo da mãe e, em seguida, o bebé começa a crescer. A maioria das crianças menores de seis anos aceita estas respostas, basta responder de uma maneira directa, simples e com espontaneidade.

Como vê, falar sobre sexualidade não tem uma idade certa, nem é algo para uma “grande conversa”, mas sim uma aprendizagem gradual ao longo do desenvolvimento da criança, à medida que vão surgindo dúvidas. Caso a criança nunca pergunte nada, não ignore o tema. As transformações que têm lugar no corpo e as questões relacionadas com a sexualidade são uma parte importante do desenvolvimento humano. Se tiver dificuldades em abordá-la, pode recorrer a uma ampla gama de livros, adaptados à idade da criança.

É importante que mantenha uma postura aberta e compreensiva em relação a este tema, sem tabus, pois só assim o(a) seu(sua) filho(a) estará mais à vontade para futuramente expor questões ou partilhar experiências. Caso contrário, procurará informação noutros locais (internet, amigos, revistas), que nem sempre são fiáveis. 

Raquel Carvalho

Psicóloga Clínica 

Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia

Raquel Carvalho
Raquel CarvalhoPsicóloga Clínica área infanto-juvenil
2018-07-12T18:10:59+01:0015 de Julho, 2018|
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