Ansiedade pós-parto: não, não é a única!

Tempo de Leitura: 6 min

Ansiedade pós-partoCertamente está a estranhar o título deste artigo… Será que não quis dizer depressão pós-parto?

Na realidade ouvimos falar frequentemente da depressão pós-parto, o que é positivo pois permite que os profissionais de saúde e as mães estejam atentos a sinais de alarme permitindo uma maior adesão à intervenção necessária.

A ansiedade pós-parto é de uma maneira geral mais difícil de identificar e mais silenciada pelas mulheres porque se sentem inseguras no seu papel de mãe.

A Carla foi mãe pela primeira vez há 5 meses e vem à consulta com queixas de ansiedade e ataques de pânico, com um grande desgaste físico, tensão, inquietação e preocupação constante com o seu bebé. A primeira coisa que diz é “ já não aguento mais!”.

Já durante a gravidez tinha períodos em que se questionava se iria ser uma boa mãe: “A minha ansiedade não me vai permitir ter uma boa relação com o bebé …será que estou preparada?” A mãe tentava acalma-la dizendo-lhe: “Não te preocupes, não tem nada que saber! Vais ver que na altura vais saber o que fazer! “

A ansiedade aumentou no momento em que a Carla chegou a casa vinda da maternidade. E agora? Tinha lido muitos livros e navegado por muitos blogs, mas sobre o que estava a sentir naquele momento não tinha lido nada …. Sentia-se insegura … Estava feliz, mas a preocupação era maior …

Os pais tentavam ajudar na logística e davam sugestões a ela e ao marido mas a Carla parecia ficar muito irritada com as sugestões “ fazia-me sentir que não era uma boa mãe. Eu devia saber o que fazer!”

Nos primeiros dias, a Carla, em vez de descansar nos períodos em que o seu filho dormia (como o médico sugeriu), ficava acordada a ler mais livros a tentar reunir mais informação. Estava sempre atenta e vigilante à respiração, ao sono e à alimentação do bebé: “será que não está a dormir de mais? Não comeu o suficiente…”

Como podem imaginar não foi preciso passar muito tempo até que se sentisse extenuada, mais insegura e chegando mesmo, às vezes, a não lhe apetecer sequer estar com seu filho. Tudo isto também era novo para o marido que a apoiava ao mesmo tempo que cuidava do filho.

Esta história pode ser a história de muitas mulheres que sofrem de ansiedade pós-parto. As queixas de ansiedade podem surgir durante a gravidez e após o parto e por isso é geralmente denominada de ansiedade perinatal e é mais comum em mulheres com história clínica de ansiedade.

Durante a gravidez e mesmo algum tempo após o parto o cérebro das mulheres é “invadido” por um cocktail de hormonas que ajudam a explicar potenciais alterações de humor e nos níveis de ansiedade. Recordo-me quando a Carla disse: “Ele depende de mim mas eu não sou boa mãe”

Tudo o que estava a viver era quase o oposto do que sempre ouvira sobre a maternidade (“período único e maravilhoso”). O que a Carla parecia desconhecer é que ser Mãe é uma aprendizagem constante de trocas afetivas tendo em conta as necessidades do bebé e numa constante avaliação e reavaliação … ajustamentos e adaptações ….  Os livros podem ajudar a ajustar as expectativas, conhecer o que é esperado em cada fase de desenvolvimento, a ensinar estratégias mas tudo o resto tem de ser descoberto na relação muito única entre seres também eles muito únicos. Cada relação da mãe (e do pai) com o seu bebé é única e consiste numa aprendizagem em relação às suas necessidades.

No entanto o que se escreve sobre a maternidade, o que se fala sobre a maternidade é quase sempre sobre o que a maternidade tem de bom, de inspirador e até mágico, mas para a maioria das mulheres quando têm o primeiro filho a experiência é bem diferente.

Aqui surge o pensamento “ Isto só me está a acontecer a mim! Se falar sobre o que sinto o que vão pensar sobre mim?” A verdadeira questão era o que é que a Carla pensava sobre si? “ Não sou boa mãe”. Este é um aspeto muito importante para a maioria das mães que acreditam que têm de ser perfeitas! Geralmente pergunto “acreditam nos super-heróis?” Perante a resposta negativa pergunto “ então porque acha que tem de ser uma super-mãe? Aquilo que os especialistas defendem é que os filhos precisam de “mães e pais suficientemente bons”.

O nosso cérebro vem equipado com um sistema que nos impele para nos aproximarmos e nos relacionarmos. Nos primeiros anos de vida a relação de proximidade é quase automática e vai permitir a sobrevivência do bebé. Mas tão importante do que a sobrevivência, é a segurança e o amor. O papel da mãe será ensinar o bebe a autorregular-se, ampliando estados emocionais positivos e modulando estados emocionais negativos.

Quando as mães não estão bem e, como a Carla, sofrem de ansiedade pós-parto este processo de modulação e co-regulação fica comprometido, dificultando o estabelecimento de uma vinculação segura.

Nesta altura sinto necessidade de fazer duas observações:

A primeira é que me refiro à mãe como principal elemento no estabelecimento de uma relação de vinculação com o bebé. A mãe, frequentemente, tem um maior envolvimento nestes anos de vida. No entanto os pais tem vindo a reclamar um papel mais ativo e importante. Noutros casos o/a cuidador(a) principal nem sequer é o pai ou a mãe.

Em segundo lugar gostaria que ao acabar de ler este artigo, e se é mãe, pai ou cuidador, reconheça que, tendo um papel crucial no desenvolvimento do bebé, reconheça que errar é humano, não saber o que fazer é humano,… Se não está bem procure ajuda para que possa ser a mãe, o pai ou o cuidador “suficientemente bom” que o seu filho precisa.

Deixo-vos por fim com uma boa notícia … o nosso cérebro aprende determinados padrões mas também os desaprende e reaprende novos padrões; ou, como se costuma dizer “ tudo é eterno até ao dia que termina”! Por isso, na relação com o seu filho haverá toda uma vida de oportunidades para ir descobrindo a melhor forma de lidar com ele– e reparando as situações em que teria havido uma forma melhor de atender às suas necessidades de desenvolvimento.

Se a chegada do seu bebé está a gerar em si emoções difíceis, sejam elas quais forem, procure um psicólogo para que, rapidamente, pode retomar o bem-estar e disponibilidade emocional que ambos precisam e merecem!

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9 de Junho, 2020

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Isabele
4 de Maio, 2020

Revi-me totalmente neste artigo , neste momento estou a passar por tudo o que está descrito a minha bebe tem 4 meses e a cerca de dois dias comecei a sentir-me muito em baixo , e de referir que sofro de ansiedade a cerca de 10 anos houve alturas em que fui medicada mas passado um tempo o meu médico decidiu retirar-me a medicação por achar que já não era necessária ,mas desde que fui mãe intensificou-se Novamente este estado tendo passado também durante a gravidez por alguns períodos de maior ânsia !! Já procurei ajuda de um psicólogo e amanhã iniciarei consulta na esperança que esta fase menos boa passe e que posso desfrutar ao máximo da maternidade

Raquel
22 de Agosto, 2019

Concordo plenamente com a descrição acima lida. Há necessidade de desmestificar que o nascimento do (a) filho (a) é sempre um mundo cor de rosa, não será tanto assim. Dar tempo que a tríade do núcleo familiar sintam efetivamente as mudanças à nova vida…. Ajudar, sim a serem Resilientes… Obrigada

Maria
Sónia Anjos
Sónia AnjosPsicóloga Clínica
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2019-07-20T19:47:28+01:0020 de Julho, 2019|
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