Tristeza ou depressão? Eis a questão!

Tempo de Leitura: 6 min

Tristeza ou depressão? Eis a questão!Tristeza ou Depressão?

Podemos começar por uma importante diferença. A Depressão é uma doença, a tristeza não. A depressão é uma perturbação psicológica e a tristeza é um estado do humor.

A tristeza no entanto está presente na Depressão. Confuso? Pessoas com depressão não são apenas tristes.

A tristeza é uma emoção natural que poder surgir em diversos momentos da nossa vida e na sequência  de acontecimentos ou contextos desagradáveis e dolorosos como perdas resultantes da morte de um familiar ou uma separação, desilusões ou frustrações como uma má nota num teste, uma promoção não conseguida, uma expectativa gorada, uma zanga com um amigo,  um objectivo desportivo não alcançado, ou mesmo um dia de chuva que não permite um determinado programa muito esperado ou até as saudades de um tempo mais feliz.  Cada um sente-a à sua maneira e de forma mais ligeira ou mais intensa. Tem habitualmente uma origem conhecida. É no entanto frequente dizermos “Estou deprimido porque o Benfica perdeu”! Estamos no entanto a falar de tristeza e não de depressão.

A tristeza tende a atenuar-se ao longo do tempo,  mais curto ou mais longo dependendo da intensidade e de cada um, a ter oscilações ao longo do dia ou das semanas agudizando-se  habitualmente com pensamentos ou memórias da perda ou das situações que originaram a tristeza.

Na depressão a tristeza é persistente e duradoura, é profunda,  intensa e “sem objecto”, estende-se a todas as áreas da nossa vida e afecta de forma negativa o nosso funcionamento no dia-a-dia. A depressão desorganiza as áreas da saúde,  sócio-familiar e profissional. Mais ou menos severa, há sempre uma significativa redução do bem-estar e da capacidade para nos mobilizarmos e vivermos a vida.

A tristeza não é constante, vai e volta, e não impede a capacidade de dar uma gargalhada quando nos contam uma anedota. Na depressão nem o melhor comediante nos arranca um sorriso. A tristeza pode reduzir a nossa capacidade de apreciar a vida como habitualmente mas não nos impede de sentir prazer com as coisas, pessoas ou situações como anteriormente. Na depressão perdemos a capacidade total de “gozar” os prazeres da nossa vida como um jantar de amigos, um passeio com o nosso filho, uma manhã na praia ou o som de uma música. Na depressão existe incapacidade de antecipar felicidade ou prazer.

Na tristeza podem surgir pensamentos negativos  e sentimentos de culpa face a um determinado acontecimento mas, não colocam em causa todo o nosso valor e auto-estima nem nos levam a querer fazer mal a nós próprios ou a acabar com a nossa vida e,  vão-se desvanecendo a pouco e pouco. Na depressão os pensamentos negativos instalam-se como uma nuvem negra sobre a nossa cabeça e permanecem escurecendo as nossas lentes e comprometendo o nosso olhar sobre nós, os outros e o mundo.

Na tristeza,  necessidades básicas como o sono e a alimentação podem sofrer algumas oscilações mas conseguimos mesmo assim descansar e alimentar-nos convenientemente. Na depressão o sono fica afectado por excesso ou por defeito (insónia ou hipersónia) e também a nutrição sofre o impacto da perda do apetite ou injestão compulsiva muitas vezes com alteração de peso. Também o interesse e actividade sexual sofrem alterações.

Na tristeza evitamos contactos e algumas situações sociais mas, logo que a tristeza passa, retomamos relações e actividades sociais.

Na depressão as relações tornam-se mais distantes. Vamos ficando cada vez mais calados, pouco disponíveis a encontros e conversas com os outros e é frequente começarem a aparecer impactos no trabalho e na família.

Na depressão,  o cansaço, a perda de energia,  a diminuição da concentração e da capacidade de pensar,  a incapacidade de tomar decisões, provocam dificuldades no trabalho. Na tristeza mesmo que estas dificuldades surjam, são passageiras e vão-se atenuando à medida que a tristeza se desvanece.

6 sinais para entender a diferença entre tristeza e depressão




 Em resumo

Depressão e tristeza estão bem longe uma da outra!

A tristeza dói e é desagradável, mas é normal e vai passar. Existem momentos de cansaço, preocupação e desânimo que se desvanecem com a tristeza.

A depressão não é normal, é mais dolorosa, provoca perturbações importantes na vida do dia-a-dia, deixa a pessoa sem energia, nada consegue mudar o seu mau humor ou fazer passar a irritabilidade, as necessidades básicas não são satisfeitas, o que se mantém pelo menos duas semanas consecutivas e muitas vezes não se resolve sem intervenção de um profissional de saúde.

Mas precisamos de estar tristes? Como entender até que ponto é normal a tristeza?

A tristeza é uma emoção natural, adaptativa, que cumpre uma função e transmite necessidades.

As emoções dão informação directa sobre o nosso contacto com os acontecimentos e traduzem o significado que estes tiveram para nós. É natural que a perda de algo significativo e fundamental para nós como um familar ou amigo seja traduzido com tristeza e não alegria, por exemplo. Se chumbamos num exame é natural que fiquemos tristes. A tristeza expressa o que sentimos por ter reprovado e revela o que precisamos para processar adequadamente esta emoção e recuperar o nosso bem estar. Ao expressarmos tristeza comunicamos connosco e com os outros o que significou para nós esta situação em termos físicos, psicológicos e interpessoais.  A expressão da nossa tristeza transmite a necessidade de ficarmos mais recatados, evitarmos eventos sociais agitados, por vezes chorar, e de recebermos afecto e apoio.

Se não permitirmos que a tristeza se expresse depois de uma perda com receio da dor não deixamos processar as emoções de forma adequada e podemos acabar por deprimir o que “dói mais que a dor que não dói”.

E quando devemos pedir ajuda?

  • Quando o sofrimento é grande e está comprometido o funcionamento do dia-a-dia em alguma ou todas as áreas da nossa vida (saúde, família, amigos  e trabalho);
  • Quando não somos capazes de gerir as nossas emoções, ansiedade, stress, pensamentos, e comportamentos de modo satisfatório precisamos de ajuda;
  • Quanto mais cedo começarmos um processo terapêutico mais cedo diminuímos o sofrimento, recuperamos o bem estar e diminuímos o tempo de perturbação.
  • Quando a depressão se instala é importante pedir ajuda.

Na dúvida devemos ir a um profissional de saúde como o psicólogo para que este avalie para não tornar crónica uma doença que tem cura como a depressão. 

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7 de Julho, 2020

Muito bom

Ana

Response from Oficina Psicologia

Fico satisfeita que tenha gostado.

Abraço

Cristina Sousa Ferreira

6 de Julho, 2020

MUITO BOM ESSE TEXTO, ESCLARECE MUITAS DUVIDAS. TODOS DEVIAM SE INTERESSAR POR ESSES ASSUNTOS O CONHECIMENTO LIBERTA.

Anonymous

Response from Oficina Psicologia

Obrigada pelo seu comentário incentivador. Fico satisfeita de saber que o objectivo de partilhar conhecimento e informação foi atingido.

Abraço

Cristina Sousa Ferreira

2 de Julho, 2019

Foi bastante esclarecedor e tranquilizante. Sempre tive consciência que a tristeza também faz parte da nossa vida, assim como a alegria e a felicidade. Saber sentir todos estes estados é que me faz seguir em frente. Só se torna mais confuso quando há quem nos diga o contrario, de que a tristeza não é normal e por isso constituir um problema. E pior mesmo quando vem de alguém que padece mesmo de uma grande depressão e projecta a sua “terapia” no próximo.

PB
10 de Abril, 2019

Gostei muito foi esclarecedora e ajudou-me a perceber a diferença de ambas

Fátima Cardoso
26 de Março, 2019

Muitas pessoas deviam ler

Para aceitarem ajuda

Muitas vezes precisamos de cuidar da nossa saúde mental

E muitas vezes ,temos que recorrer à ajuda

Não somos mais fracos pelo facto de pedirmos ajuda a um terapeuta até pelo contrário

Somos muito forte porque aceitamos ajuda

Inês Malafaia
Cristina Sousa Ferreira
Cristina Sousa FerreiraPsicóloga Clínica

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    2019-03-11T22:29:08+00:0011 de Março, 2019|
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