Os nossos dias estão muito preenchidos. Desde que saímos de casa de manhã até regressarmos à noite, respondemos a muitas solicitações, temos de resolver problemas, preocupamo-nos mais do que gostaríamos e estamos a maior parte do tempo em piloto automático. Provavelmente, há momentos em que pensa “Apetecia-me estar mais tranquilo, mas não sei como…” ou “A minha vida tem este ritmo e eu não posso fazer nada em relação a isso” ou ainda “Gostava de não estar tão preocupado e sentir-me mais sereno”.
E seu eu lhe dissesse que não tem de mudar a vida toda de repente? Que pode encontrar um bocadinho mais de serenidade, mesmo no ritmo em que vive todos os dias?
A minha sugestão é que me acompanhe ao longo deste artigo em que lhe explicarei 5 breves práticas de Mindfulness para que possa começar a fazer já hoje e me conte como foi na secção de comentários abaixo! ? Vamos a isto?
Como sabe que o seu corpo está sentado?
Esta é uma pergunta que faço frequentemente nos cursos de introdução ao Mindfulness. A resposta dos participantes é, provavelmente, igual à sua. Ou me dizem que é por saberem que têm uma cadeira ou colchão por baixo deles. Ou dizem que sabem… porque sim! Ou… rufos de tambores…. “Eu sei que estou sentado, porque sinto”. A palavra-chave aqui é sentir. Sentir o nosso corpo, sentir o peso do corpo quando está sentado e tomar consciência da qualidade das sensações à medida que as observa. Assim, abre-se uma das portas para o momento presente. Uma das formas mais simples de se sentir presente e ligado à sua vida é utilizar o seu corpo como uma âncora para o presente.
Assim, se puder, ao longo do dia de hoje e da próxima semana aproveite situações em que está sentado ou em que o seu corpo se está a movimentar, de uma posição para outra, como forma de entrar em contacto com o momento presente. Pode, por exemplo, entrar numa sala de reuniões, sentar-se e dar atenção às sensações da respiração na barriga e tomar consciência do peso do corpo sobre a cadeira. Bastam alguns minutos de atenção plena. Está agora mais consciente do ambiente à sua volta e de si próprio. O corpo é a sua âncora de estabilidade. Tome conta dela.
Tome conta das suas imperfeições
Parece mais fácil dizer do que fazer, não é? As nossas falhas, imperfeições ou maus resultados costumam pertencer à “caixinha dos devias”. Ainda não sabe o que é esta caixinha? Tenho a certeza que a conhece “Eu devia ter falado com a minha filha de outra maneira hoje de manhã”, “Eu não devia ser tão lento a responder”, “Eu devia ser mais disciplinado”, “Eu não devia ser tão tímido”…. Acho que já percebeu a ideia. Conhece bem os seus “devias ou não devias”.
Esta “caixinha dos devias” torna-se importante porque parte do seu sofrimento é gerado por ela. Pior. É provável que acredite que esta crítica o ajuda a ser melhor e a mudar. Penso que ambos sabemos a verdade a propósito de mudanças que não acontecem, por muito que se sinta culpado e desconfortável por não ter feito o que acredita que devia ter feito.
Se a crítica olha para o passado e o deixa a sentir-se impotente e preso em relação ao que aconteceu, não está a ajudar.
Se a crítica olha para o que aconteceu e o mobiliza para em futuras situações adequar o seu comportamento de uma nova forma, então está a ajudar.
Aceitar e tomar conta das suas imperfeições ajuda-o a reconhecer que o mundo é complexo e o resultado do que lhe acontece não depende só de si. Uma expressão que também uso por vezes no curso de introdução ao Mindfulness é “ainda não estamos capazes“. Para mim conforta-me reconhecer a imperfeição e a aprendizagem como duas faces da moeda do crescimento. Há coisas para as quais ainda não estamos capazes, que ainda temos aprender e está tudo bem. Reconheça que cada momento é uma oportunidade para fazer diferente. Se não fez diferente até agora, faça-o no momento seguinte. Se estiver capaz.
Espaço para Respiração 3 minutos
Finalmente, uma das práticas mais poderosas para se ligar ao seu dia-a-dia é o espaço para respiração de 3 minutos. O princípio desta prática é poder recorrer à sua respiração para aumentar a clareza de observação em relação a si e ao que o rodeia. Quantas vezes se lembrou hoje de que estava a respirar? Pois, já sei que parece mais uma pergunta estranha. Mas, se está mais vezes em piloto automático do que gostaria, a consciência da sua respiração pode ser o serviço de despertar que precisa! Para travar as ruminações sobre o passado e as preocupações em relação ao futuro, é muito importante que consiga perceber o que está a acontecer consigo no momento presente. Basta carregar neste link para ter acesso ao download de um pdf gratuito sobre esta prática. Espero que lhe seja útil!
![Espaço para Respiração](https://www.oficinadepsicologia.com/wp-content/uploads/2019/03/Espaço-para-Respiração.jpeg)
Amplie perspectiva
Quando estamos demasiado envolvidos nas tarefas do dia-a-dia, sentimos que já temos todas as rotinas estruturadas e com uma sensação de não termos tempo para nós, é bem provável que nos esteja a faltar aquilo que vários líderes chamam de “balcony time”. Este conceito é fundamental para sentirmos que temos uma vida mais criativa, com maior abrangência e menos refém de rotinas e processos bafientos.
No fundo, é abrir as suas janelas para ganhar espaço de observação em relação a si e ao que o rodeia. Ir para a sua varanda lá no alto e observar o mundo e as suas dinâmicas próprias. Em vez de ser o mundo a reclamar a sua atenção, procure escolher onde, quando e como vai colocar a atenção no mundo. A regularidade com que levar esta intenção de curiosidade ao seu dia determina quanto desta atitude de ampliar a perspectiva passa a ser um hábito seu. É um bom momento para ver como está a levar a sua vida com uma perspectiva de maior clareza. O objectivo não é transformar este processo numa forma de se castigar por tudo o que não fez ou devia ter feito, mas sim promover o seu crescimento como pessoa alinhada com o que é verdadeiramente importante para si.
Interpreto o provérbio “Cai sete vezes, levanta-te oito” como a expressão desta atitude de crescimento. A cada momento uma nova oportunidade de retomar o alinhamento consigo!
Pode fazer o seu “balcony time” diariamente, se for possível. O importante é que encontre um momento na sua vida e determine na sua agenda que esse tempo é para si. O local também é importante, claro. Vai querer fazê-lo no seu trabalho? Ou numa esplanada? Ou numa livraria? Talvez em casa?… Escolha espaço e hora.
Será que quer deixar umas notas para si próprio escrevendo no papel? Ou prefere notas a computador? Talvez até gravando a sua voz num ficheiro audio? O importante é que saiba como o vai fazer.
Pode perguntar a si mesmo: o que foi desafiante? Onde se sente preso? O que o desencorajou ou afectou a seu humor e os seus pensamentos? Repare no que pode aprender e procure alargar o seu conhecimento sobre o seu próprio funcionamento.
Ganhe tempo a ouvir os outros
Ainda hoje numa sessão com uma cliente minha distinguia entre ouvir, escutar e entender alguém. Para o propósito deste artigo irei dedicar-me ao tema de escuta em atenção plena. Quando estamos a dedicar a nossa atenção plena a escutar os outros, estamos a fazê-lo pelos outros. Isto que fique claro. Sabemos, no entanto, que tal como na compaixão e na bondade dirigida aos outros – também na escuta plena a nossa fisiologia agradece. Resumindo: ser bom para os outros é bom para nós. O objectivo desta prática é simples. Ao longo do dia de hoje a ideia é escutar outra pessoa em atenção plena, dando-lhe o espaço que ela precisar para se expressar.
Dito assim parece fácil. E, se calhar, é. Procure no momento de escuta em atenção plena, ter uma atitude generosa evitando interromper a pessoa ou colocar questões excessivas. Pode acenar ou acompanhar com a sua expressão facial, dizendo que sim, que a está a compreender, mas procure não influenciar o conteúdo da conversa. Procure fazê-lo com pessoas importantes para si, para que possa estar de coração aberto a procurar ouvi-la dando todo o tempo e espaço necessário para ela se exprimir. Se vir que está a perder o foco ou atenção, não faz mal. Note que a sua atenção se desviou e procure trazê-la de volta à outra pessoa e ao que ela está a dizer.
Se chegar a um ponto que a pessoa já não tem mais nada para dizer, repare como é ter espaço para ficarem um pouco em silêncio e com disponibilidade da sua parte para o que ainda ouvir o que a outra pessoa tenha para dizer.
É provável que esta breve prática o ajude a notar a sua tendência para tentar intervir, resolver ou influenciar a outra pessoa de alguma maneira.
Repare se a escuta em atenção plena é um bom caminho para entender o outro. E como será que a outra pessoa se sentiu ao ser escutada?
Qual foi o interesse que este artigo teve para si?
O artigo está muito apelativo, de fácil compreensão e conteúdo enriquecedor.
Muito interessante e esclarecedor
Resolvi nesta noite de Domingo, numa vila bonita, algures em Angola; parar, enquanto andava do meu veículo, pelas suas artérias. Parei por que?
Porque apeteceu-me dar uma espereitadela às dicas da nossa oficina – aliás, como muito e bem – habitualmente, o tenho feito.
Encostei as minhas costas ao banco, em jeito de confortar o corpo e desliguei a música. Eis, o que me catapultou para o “momentum”: As práticas de ‘mindful’. Reli o artigo e megulhei totalmente nele.
Tudo o que precisamos – ainda que, subtilmente – dar pureza e serenidade à nossa alma.
Com apreço, mais uma vez, pontuo.
João
Sempre excelente!
A suspensão do sonho em tempos de isolamento.
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Do lado de dentro a conversa é outra
Só chegou agora? Ainda vem a tempo. Isto podia ser o maior espetáculo do [...]