A masculinidade do João

O peso dos mitos da sexualidade masculina

“Quando não tenho vontade de ter sexo, sinto-me envergonhado. Como se fosse menos homem. Invento uma desculpa qualquer à minha companheira, para conseguir esquivar-me. Não sei o que é que há de errado comigo.”

João( nome fictício), 40 anos

Esta é uma das principais dificuldades com que os homens se deparam quando se fala de sexualidade. A expectativa de performance cria problemáticas de vária ordem, que se revelam ao longo da resposta sexual masculina.

A conceção da resposta sexual masculina assenta em variados mitos tais como:

• o homem deve estar sempre pronto para ter relações sexuais
• a sexualidade masculina depende maioritariamente de fatores biológicos
• a sexualidade masculina é pouco afetada pelo humor e variáveis relacionais
• para os homens o sexo é sempre descomplicado e independente do contexto
• deve ser o homem a iniciar relações sexuais

Estas ideias pré-concebidas que enquadram os comportamentos sexuais masculinos em determinadas normas sociais, afetam negativamente a sexualidade masculina, o que, frequentemente, se traduz em ansiedade de desempenho. É, por isso, importante proporcionar informação para desconstruir estes mitos que condicionam os homens a dificuldades, muitas vezes inconfessáveis quando se trata de sexo:

• Na verdade, o humor afeta a resposta sexual masculina: 42% dos homens com quadros depressivos e 28% com quadros de ansiedade veem a sua sexualidade comprometida. O que difere das mulheres é que os homens acabam por regular o humor com sexo – o que não implica satisfação sexual e/ou relacional.
• Grande parte da satisfação sexual dos homens reside na satisfação que proporcionam à/ ao parceira/o. Não será isto suficientemente relacional?
• A vergonha é uma emoção que predomina na sexualidade masculina. Muitos homens têm dificuldade em enquadrar-se no estereótipo de homem sexualmente agressivo, quase “predador”. A vergonha também surge quando não conseguem corresponder às expectativas sexuais dos/as parceiros/as. É importante por isso reter que os homens também têm direito de estar cansados, doentes, ou simplesmente não terem desejo sexual.
• Muitos homens são assolados pelo medo de rejeição, já que são constantemente pressionados a iniciar relações sexuais. Numa altura em que as mulheres estão cada vez mais empoderadas, é tempo de quebrar o duplo padrão sexual tão enraizado, e dar-lhes informação para que sejam também elas a iniciar as relações sexuais. Esta simetria de poder irá ajudá-las não só a elas, mas também aos homens.

Por isso, se tem alguma dificuldade semelhante à do João, deixamos-lhe algumas dicas:

• Tente conversar honestamente com a sua companheira. Só assim será possível resolver o que o perturba. Em equipa poderão encontrar estratégias para melhorar a vossa vida sexual;
• Como andará o humor? É importante perceber se não anda mais triste ou ansioso. Tirar as medidas à autoestima é fundamental quando se fala de sexo. Se se sente mal consigo próprio, pouco atrativo e desinteressante é normal que sujam dificuldades sexuais.
• Pare de pensar em sexo. Aproveite mais o momento, retirando prazer dos vários estímulos sensoriais: acenda umas velas, tomem um banho juntos, dancem ao som da vossa música preferida. Ruminar sobre “o ato” em si retira o prazer que o mesmo lhe poderia proporcionar.
• No caso das dificuldades persistirem, acarretando compromisso para relação, não hesite em procurar ajuda profissional.