O Luto em crianças
O luto é um processo individual, abstrato, complexo e dinâmico. A forma como cada criança vive o luto e representa a morte depende da sua idade, personalidade, estádio de desenvolvimento cognitivo e psicossocial, da cultura onde está inserida e ainda da forma como os adultos à sua volta lidam com a morte.
Para favorecer o processo de perda, é imprescindível que as crianças tenham ajuda e apoio de adultos próximos, que lhes permitam expressar as suas emoções e lhes respondam a perguntas “difíceis”. Quando a morte é ocultada, os sentimentos não são expressos e é-lhes negada a oportunidade de partilharem o que sentem, de conversarem sobre a sua perda e, consequentemente, de elaborarem o seu luto.
O trabalho de luto bem sucedido proporciona o enriquecimento interior e a aquisição de competências necessárias à superação de sentimentos de perda.
Crianças mais pequenas, com 3 e 4 anos, geralmente associam a morte a uma fase de grande tristeza. Contudo, são incapazes de perceber a morte como algo irreversível. Isto faz com que alimentem a ideia de que a pessoa falecida irá voltar. Já entre os 5 e os 9 anos, as crianças começam a perceber que a morte é definitiva, todavia, acreditam que esta não ocorre nem em si nem naqueles que lhes são significativos. Apenas dos 9 aos 12 anos de idade, depois da criança atingir um outro estádio de maturidade cognitiva, é que as crianças interiorizam o conceito de morte como sendo um fenómeno universal e irreversível, comum a todos os seres vivos.
Como explicar às crianças
Assim, a explicação da morte deverá ser feita numa linguagem adequada ao nível cognitivo e linguístico da criança, através de conceitos concretos e expressões reais, sem recorrer a metáforas e/ou eufemismos. É essencial explicar de forma simples e sincera o que aconteceu, sem mentiras.
Dar informação às crianças, satisfaz as necessidades de pertença e de segurança, proporciona uma adaptação e compreensão da morte e garante a descarga de tensão e o dissipar de sentimentos que impossibilitam a elaboração do luto. Explicar aberta e claramente o processo da morte do ente querido, utilizando referências do quotidiano, como elementos da natureza ou animais de estimação, pode facilitar o processo.
Recorrer a actividades lúdicas, como desenhar, escrever, ler uma história, que suportem e facilitem o amadurecimento e a aquisição de estratégias e capacidades psicológicas para criar uma representação interna da morte, pode ser um caminho possível. Ajude a criança a manter rotinas, tradições e rituais e, se criar novos, que esses criem estrutura e segurança. Pode-se igualmente considerar um momento de despedida e a participação em rituais que facilitem a criança a elaborar a perda.
O papel do adulto
Neste processo, os adultos devem tornar-se conscientes e presentes, reconhecendo os estados emocionais da criança. Geralmente, as crianças expressam o luto através de sentimentos como a tristeza, a ira, o medo e, por vezes, voltam a ter comportamentos mais infantis. No entanto, se a criança continuar a apresentar dificuldades em gerir o luto durante muito tempo, se verificar apatia, isolamento e indiferença, birras frequentes e prolongadas, alterações significativas em contexto escolar (concentração e rendimento escolar), dificuldades em dormir ou um comportamento agressivo, considere procurar ajuda profissional.
Autora: Salomé Queirós
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