Estou nas redes, logo existo!

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 Ou, a vida como ela não é nas redes sociais…

Como andam suas visualizações? Quem são seus stalkers, crushes e followers?  Precisa ver e ser visto ou que saibam todo o tempo onde você está, o que pensa, o que come, o que prefere?

Entra em pânico quando esquece o celular? Está sempre contando os ‘likes’ e ‘views’ de suas postagens?  Seus melhores amigos são aqueles que melhor reagem aos seus posts? Se precisa procurar uma coisa – qualquer coisa – vai primeiro ao Google ou aos aplicativos?

E o mais importante: tem dificuldade em deixar o celular de lado para aproveitar o momento com as pessoas de quem gosta?

 

Se respondeu sim à maioria destas questões, você não está só: todos nós dependemos, em algum grau, da tecnologia. E em princípio, não há nada de errado com isso: afinal, hoje é difícil imaginar alguma atividade que não seja mediada por um computador ou aplicativo, desde transações bancárias, todo tipo de informações, compra e venda de produtos, filmes, música, e até procurar pessoas para namorar ou um encontro sem compromisso.

O que se torna preocupante é o uso problemático das redes sociais, e a dependência psicológica que pode acabar acontecendo; este tema tem ocupado muitos estudiosos, que acompanham surpresos a velocidade com que as pessoas aderem ao uso das redes, e a transposição de aspectos da vida real para o mundo virtual.

Na era da informação, a internet se torna o paraíso digital em que criamos um mundo só nosso: nela nos mostramos mais bonitos, mais tolerantes, mais engajados, mais felizes, mais inteligentes.

Parafraseando Descartes, “Apareço, logo existo”- e esta existência precisa ser alimentada o tempo todo; quem não está nas redes sociais, é como se não existisse. Quando encontramos alguém ou algo novo, a gente ‘dá um Google nele’, e o resultado que encontrarmos certamente vai pautar a nossa opinião a respeito.

 

Falar muito de si mesmo também é uma forma de ocultar-se, alerta Nietzsche, pois ao falar de nós mesmos, também selecionamos o que falar, portanto escondendo aquilo que realmente somos.

Para o historiador Leandro Karnal, a necessidade de constante exposição se liga ao que ele chama de ‘solidão estrutural’, derivada da consciência moderna: “Como não tenho amigos, tenho 3000 no Face; como não tenho nada interessante para mostrar, eu fotografo tudo”. Para ele, tendo cada vez mais dificuldade em estabelecer algo orgânico e significativo com o mundo, as pessoas seguem se expondo. Preferem se sentir vigiadas a se sentirem sozinhas, preferem a crítica ao abandono.

 

Mas se é impossível ficar sem tecnologia, é importante que as pessoas aprendam a viver com uma quantidade sustentável dela, afirma o jornalista canadense Daniel Siedberg, autor do livro “Digital Diet”; ele mesmo um ex-viciado em internet, afirma que é possível tirar vantagem da tecnologia de maneira saudável e encontrar o equilíbrio. A dieta que propõe inclui um período de abstinência e o cálculo do “peso digital” de cada pessoa, com base em um índice criado por ele, que leva em conta o número de aparelhos eletrônicos, os logins e serviços, como são usados e por quanto tempo. O autor sugere também que os pais fiquem atentos à maneira como as crianças interagem com a tecnologia.

 

Um outro modo de  conseguir o controle de nossa vida digital, e não sermos controlados por ela, vem de um conselho de Leandro Karnal: “Tente descobrir vagamente quem você é. Você não será feliz. Mas sua consciência o impedirá de ser vazio. E você não precisará postar o tempo todo na internet.”

 

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Ísis Léon
Ísis LéonPsicóloga
2017-09-24T14:53:01+01:0024 de Setembro, 2017|
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