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Uma viagem dentro de mimEscrevi recentemente sobre como a depressão “apenas é”, uma vez que não conseguia encontrar uma razão para a sua presença (desta vez). Seguramente que me ensinou que se pode estar deprimido mesmo que a vida nos corra bem – o que, por si só, me preocupou. Quer dizer, se não fôr precisa uma razão, a malandra vai desatar a aparecer quando lhe apetece, certo?

 

Quando é que a sua depressão começou? Para mim, costumava ser que só surgia quando tinha rupturas relacionais. À medida que fui crescendo (e não tem havido rupturas de relações) a minha depressão não pareceu contentar-se em ficar nas sombras. Agora já me atira para o lado negro por uma qualquer razão antiga e, ultimamente, por nenhuma razão.

 

Não consigo deixar de me debater com esta curiosidade – e suponho que penso, erradamente, que se conseguisse perceber isto, talvez pudesse controlar o surgimento da depressão? (spoiler alert: não é possível!).

 

Uma viagem dentro de mim

Ainda assim, decidi dar rédea solta à minha mente para meditar e escutar atentamente os meus pensamentos subconscientes, em vez de me interrogar conscientemente durante todo o dia sobre porque é que me sinto assim. Dizem-nos que os nossos pensamentos promovem estas emoções horríveis, por isso, mas que diabo é que eu estou a pensar, abaixo do radar, para fazer com que o meu mundo fique negro?

 

Uma vela acesa, a casa vazia, sento-me. Escuto e continuo a escutar. E fico chocada. Os meus pensamentos desaparecem – todos, de rabo entre as pernas, como ratos a fugirem. “Não vais conseguir escutar-nos!”. Por isso, fico sentada sem nada. A minha depressão é literalmente nada. Quase rio quando me apercebo disto, mas não sem que antes a minha mente tenha divagado novamente, e é então que a vejo, a tremeluzir debaixo da superfície. Sempre que a apanho, desaparece rapidamente, como um peixe que não quer ser apanhado. Mas eu reparei nela. E nunca me tinha apercebido sequer que lá estava!

 

E isto foi aquilo de que tomei consciência. A minha mente não está do meu lado; está a jogar no lado contrário, a boicotar-me. Sempre que penso nalguém, um pequeno pensamento surge dizendo-me “eles conseguem e tu não conseguiste”. Sempre que penso numa ideia de negócio, ouço “nunca serias capaz de fazer uma coisa dessas; isso é para os outros”. Penso num emprego e “nunca serias capaz de fazer isso; os outros podem, mas tu não”. A minha mente vai-me dizendo, tão baixinho, que eu sou menos, muito muito menos do que todos os outros.

 

Anteriormente dizia-me que eu era menos porque não tinha dinheiro (agora tenho mais). Dizia-me que eu era menos porque não estava numa relação (agora estou). Dizia-me que eu era menos porque não tinha um bom emprego (depois arranjei um bom emprego). Por isso, acho, com estes aspectos cumpridos, continua a teimar que eu sou menos em todas as coisas possíveis – compara-me constantemente de uma forma desfavorável com todas as outras pessoas. Acabou por se colar subtilmente a todos os meus pensamentos.

 

O que acho mais extraordinário nisto de que me apercebi é que, se me conhecesse, iria pensar que sou a alma de qualquer festa, sem uma preocupação que seja! Ser-lhe-ia impossível conjugar a minha vida com os meus pensamentos. E ninguém fica mais surpreendido com isto do que eu. De um ponto de vista lógico, vejo-me a ter uma vida boa. De um ponto de vista emocional, a minha mente rebelde diz-me que não tenho condições para ter sucesso em nada, para ser alguma coisa ou para chegar seja onde for.

 

Os outros também têm estes pensamentos importunos? O que ouve dentro de si quando se põe realmente à escuta?

A Rapariga Viajante

Um utilizador da Moodscope

 

Artigo livremente traduzido por Madalena Lobo, com autorização da Moodscope, o aplicativo que o pode ajudar a gerir positivamente as emoções