Tempo de Leitura: 5 min

Autor: Rita Castanheira Alves

De uma forma muito simples, mindfulness é simples e complicado ao mesmo tempo. É ter consciência de cada momento, do presente, do agora, é dirigir a atenção para aquilo que normalmente não dirigimos a atenção. Aqui e agora.

No fundo é tomarmos contacto com o momento presente, com aquilo que está a acontecer no momento actual.

Peguemos num exemplo: Quando vai com o seu filho para a escola ou quando o seu filho vai sozinho para a escola experimente perguntar-lhe ao final do dia:

Sentiste os teus pés a baterem no chão enquanto andavas? O que sentiste nos ombros enquanto levavas a mochila às costas? O que sentiste no teu corpo e onde à medida que se aproximavam os portões da escola? Que sons ouviste à tua volta?

É provável que ele não conseguisse responder com precisão à maioria destas questões ou pelo menos que não tivesse pensado a fundo em nenhuma delas enquanto estava a caminhar para a escola. Provavelmente ía a ouvir música ou a pensar no teste que iria fazer ou no problema que teria para resolver com um amigo. E o pai ou a mãe também não.

Mindfulness permite-nos criar novas formas de controlo e sabedoria, através do desenvolvimento das nossas capacidades para relaxar, dedicar a nossa atenção e consciência ao que ocorre ao longo do dia. Ter uma atitude mindfulness permite a cada um e a todos  responder aos acontecimentos presentes com uma total consciência das nossas tendências automáticas e assim fazer escolhas que não são limitadas por estes automatismos e logo menos precipitadas. O desenvolvimento de uma consciência sem julgamento dos próprios impulsos e padrões de pensamento poderão traduzir-se numa diminuição da vulnerabilidade e reactividade emocional. No nosso dia-a-dia, a maioria de nós não se rege por uma atitude mindfulness e como tal movimentamo-nos em “piloto automático”, não tendo consciência do que nos move e motiva as nossas acções.

Ao desenvolvermos uma atitude mindfulness no nosso dia-a-dia permite-nos mesmo sob pressão, manifestarmos comportamentos mais flexíveis e adaptativos.

Como posso desenvolver uma atitude Mindfunessl com os meus filhos?

E é de bem pequeninos que podemos começar a desenvolver esta atitude de maior consciência, atenção e controlo sobre o meio e sobre os comportamentos.

A investigação é ainda muito limitada no que respeita a aplicação de mindfulness com crianças e jovens, mas a pouca que existe sugere resultados positivos. Como consideramos que a prática de Mindfulness deve ser partilhada por toda a família, deixamos a prática de mindfulness com as devidas adaptações aos mais novos.

Em geral, a partir dos 7 anos é possível começar a conseguir atitudes de auto-consciência (estar consciente de si mesmo, do seu corpo, emoções e pensamentos) e de modificação das tendências comportamentais habituais.

Treine respiração mindfulness com os seus filhos:

  • Pode sugerir-lhe para ambos fecharem os olhos e respirarem fundo, lentamente, como se quisessem encher um balão que têm na barriga muito devagarinho para ele não rebentar. Através desta imagem, ajuda o seu filho a conseguir concentrar-se e mobilizar toda a atenção para a sensação da barriga. Ao longo das respirações pode introduzir o suster a respiração para o balão ficar cheio durante um bocadinho, o que vai aumentar a atenção para a sensação. É natural que o seu filho se distraia com os barulhos do exterior ou qualquer outra situação ou pensamento. Se isto acontecer, peça-lhe que repare melhor no que o distraiu e depois tente novamente concentrar-se em encher e esvaziar o seu balão que está na barriga, como se isso fosse agora a única missão que têm, faça-o de forma tranquila, sem pressas ou sem o acusar de não conseguir. Estas tentativas de mudanças dos focos de atenção permitem treinar a atenção e lidar com os diferentes tipos de acontecimentos que nos rodeiam e pelos quais passamos (pensamentos que nos distraem, sentimentos, desconforto físico).

Faça a sonda corporal com os seus filhos:

  • A sonda corporal permite-nos estar mais conscientes das sensações corporais. Sugira aos seus filhos que progressivamente se concentrem nas partes do corpo que vai nomeando e cada vez que nomear uma parte do corpo, eles devem torná-la tensa, contrai-la e depois relaxá-la devagarinho. Neste tipo de exercício e tratando-se de mindfulness o objectivo é dirigir a atenção sem qualquer juízo crítico para cada parte do corpo, ganhando consciência da mesma. Com crianças mais pequenas pode mesmo arranjar metáforas para ajudar a concentrar-se e a contrair cada parte do corpo de forma independente. Por exemplo: para contrair as mãos, imaginar que tem uma laranja em cada mão cheia de sumo e que vão espremê-las muito, muito, muito; na barriga, fazer força na barriga porque vai passar um gigante ou um elefante e não podem deixar que vos esmague. Para cada parte do corpo pode ser arranjada uma metáfora que ajuda a contrair e depois a relaxar.

 

Leve a família a fazer uma caminhada mindfulness:

  • Proponha uma caminhada diferente à família: em vez de irem apenas andar para chegarem a um local específico, o objectivo é andar e prestar atenção a todos os aspectos da caminhada: as sensações corporais dos pés a baterem no chão; mudanças de temperatura no corpo, luminosidades, sons. Pode ser proposto o desafio da caminhada ter um momento (com crianças mais pequenas pouco tempo) em que não conversam, cada um tem o desafio de apenas se focar nas suas sensações corporais ao longo da caminhada, sons, pensamentos, emoções, tentando sempre não se distrair com o que ouve das pessoas que passam. Pode mesmo ser sugerido que enquanto caminhem respirem com a respiração mindfulness que treinaram e irem percorrendo o corpo, os sons, a temperatura para no final, quando o pai ou a mãe ou outro adulto disser que terminou o tempo possam partilhar o que sentiram no corpo, o que ouviram, o que prestaram atenção na caminhada. Depois façam uma actividade em família do agrado de todos.

Tratando-se de crianças e jovens é importante recorrer a explicações mais claras e concretas do que é o mindfulness, para que serve e como pode ser feito. Poderá recorrer a exemplos do dia-a-dia da criança ou do jovem: pode explicar-lhe como é frequente por vezes acabarmos de comer e nem nos lembrarmos concretamente do que comemos ou quando estamos à conversa com alguém já nem nos lembrarmos como começou a conversa. Pode também dar-   -lhe o exemplo como por vezes só repara que está com vontade de ir à casa-de-banho quando já está mesmo muito aflito. Trata-se de exemplos que explicam aos mais novos (e até aos mais crescidos) como pela nossa vida na maioria das vezes não damos conta do que nos vai acontecendo.

Ser mindful requer treino, paciência e persistência. É uma atitude útil e importante para toda a família e no caso das crianças e jovens para a promoção da atenção, concentração e vivência de cada experiência e aprendizagem com a totalidade e com cada parte da mesma.

Procure recorrer a exemplos concretos da vida do seu filho para lhe explicar a importância de ser mindful e o que significa a atitude mindfulness, introduza a prática de mindfulness nas vossas actividades familiares. Procure diversificar as experiências e generalizar a atitude mindful a diversas situações.

É essencial não repetir sempre as mesmas situações, correndo o risco de se tornar aborrecido para os seus filhos a prática de mindfulness e dediquem tempos reduzidos a essa prática, incluindo-a nas actividades que fazem em conjunto (arrumar brinquedos, levantar a mesa, fazer uma caminhada, mergulhar na praia).

E porque não começar já hoje a ser uma família Mindful?

Fica a sugestão!