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Bruna Rosa

Bruna Rosa

Do ponto de vista psicossocial, um dos aspectos centrais numa situação de divórcio é o modo como as relações se reestruturam após a ruptura do casal e, consequentemente, do núcleo familiar.

Frequentemente encontramos pessoas que após a separação mostram uma forte resistência a construir novas relações de intimidade mas, paralelamente,e surge também uma outra dificuldade associada à tendência para desenvolver relações (quase) simbióticas com os filhos. De facto, a solidão experienciada frequentemente após um divórcio e a saída de um dos elementos do casal do espaço antes partilhado por ambos, conduz muitas vezes a que o elemento que detenha a guarda maioritária dos filhos se tenda a refugiar nestes. Nestes casos, encontramos muitas vezes mães e pais que tendem a tornar-se excessivamente proteccionistas ou a promover relações de dependência que garantem, antes de mais, o seu próprio bem-estar na medida em que anulam ou diminuem a sensação de abandono e/ou solidão.

Do outro lado, do dos filhos, fica muitas vezes nestes casos a experiência de uma ausência de espaço para viver o próprio luto da perda (da presença física do pai ou da mãe), havendo uma responsabilização assumida pela garantia do bem-estar do elemento do casal que se mantém presente. Esta responsabilização é alimentada frequentemente pelo medo de ser abandonado pelo elemento com quem a criança ou o adolescente continua a viver (as crianças em particular tendem a culpabilizar-se pela separação dos pais, em particular quando aqueles não partilham com elas as verdadeiras razoes). Quando o adulto alimenta esta dependência promove a culpa no filho face à possibilidade de se autonomizar – “não posso deixar a minha mãe sozinha, ela só me tem a mim”.

As situações de ruptura de uma relação são, inequivocamente, situações vivenciadas com angústia, na medida em que representam uma ou mais perdas e impelem a uma mudança polivalente, obrigando os elementos envolvidos a um conjunto de restruturações internas. Surge com naturalidade a tendência para que pais e filhos se refugiem uns nos outros na medida em que são confrontados com a mesma experiência, o que cria um sentido de não existirem outras pessoas que possam compreender melhor a dor sentida do que as envolvidas directamente no processo. Os problemas daqui resultantes constroem-se sobretudo a partir da dificuldade dos pais em reconhecerem que apesar de a experiência ser partilhada com os filhos, o modo como o luto é vivenciado é um processo individual e na infância o luto é frequentemente acompanhado de um conjunto de questionamentos que precisam de respostas para não dar aso a um imaginário tendencialmente auto-culpabilizante. As crianças precisam de sentir que os pais as suportam nesta dor, ao invés de sentirem que deverão ser elas a apoiá-los. É importante a partilha, o luto deve ser vivenciado de uma forma honesta (chorar em conjunto ou partilhar receios de uma forma que a criança compreenda ajuda-a a perceber que o que sente é natural), mas é igualmente importante que o adulto compreenda que a relação entre pais e filhos não é, na sua essência, uma relação de parceria, de paridade. É crucial que a criança se continue a sentir segura, confortável e amada.

Muitas vezes, estes limites são difíceis de traçar. Surgem-nos muitos pais que trazem consigo um receio de serem abandonados pelos filhos, agindo, muitas vezes inconscientemente, de uma forma altamente invasiva com aqueles, por forma a garantirem a sua permanência junto deles, o seu afecto. É crucial nestes casos reorganizar os afectos e as relações interpessoais, garantindo-se a construção de outras relações, amorosas e de outra ordem, e reconstruindo-se, de uma forma saudável, a relação entre pais e filhos.

Este não é um processo pacífico, porque se acompanha de muitos receios e de dificuldades múltiplas por exigir a redefinição de papéis e uma reestruturação emocional substancial. A ajuda de um psicólogo clínico é claramente uma mais-valia em situações em que se torna imperioso reencontrar um espaço para se desenvolverem relações gratificantes.

Esperamos por si, no nosso Cantinho psicoterapêutico, na Oficina de Psicologia.