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Joana FonsecaMuitas vezes temos tendência para procurar o ideal. Isto pode acontecer dependendo do tipo de personalidade, temperamento, educação e até do momento de vida em que está, é natural que estas perguntas possam surgir. O problema é quando estas perguntas se tornam as principais perguntas do dia-a-dia. Na verdade, nestes momentos, estamos a fazer perguntas sem resposta. Muitas vezes andamos cansados, porque todos os nossos objectivos se relacionam com um ideal que não é possível alcançar. Isto acontece quando a nossa educação foi muito rígida, onde o erro nunca era aceite como momento de aprendizagem, ou quando procuramos sempre a perfeição em cada coisa que fazemos.

Outro dos nossos ideais de perfeição é a forma como nos comparamos com os outros pode ser guiada com os mesmos parâmetros. Muitas vezes achamos que os outros são todos perfeitos, que mais ninguém erra ou sofre humilhações.

Já lhe aconteceu conhecer alguém que considerou “convencido”, e, depois de falar um pouco mais com essa pessoa, descobrir que afinal existe alguma insegurança por trás da necessidade de parecer superior? Quando começamos a olhar o mundo à nossa volta sem o olhar da perfeição, percebemos que afinal, como diz a música dos Xutos e Pontapés, Não sou o único.

O problema é que o funcionamento, focado no perfeito, pode ser muito frustrante, uma vez que colocamos sempre objectivos inalcançáveis e por isso saímos sempre frustrados.

É um exercício exigente, mas mudar o olhar acaba por não ser tão exigente como algumas pessoas são consigo próprias. Usando um pouco de compaixão, olhar e aceitar que somos humanos, e que não há nada de errado com “errar”. Se aprendêssemos a ter este amor próprio, talvez fosse mais fácil aceitar o erro e até encontrar algo de novo nele, uma aprendizagem.

Encontramos assim um novo objectivo, aceitar que somos humanos, que erramos, pode tornar-nos pessoas de sucesso. Isto porque, se eu não admito o erro nunca vou conseguir fazer nada de desafiante. Se não admitir falhar, então nunca vou aceitar desafios e arriscar, por exemplo, numa relação, oferta de emprego ou objectivo pessoal mais desafiante. Quando não nos aceitamos humanos caímos facilmente no pensamento “tudo ou nada”. Neste caso, por exemplo, só se tiver todas as condições é que vou a um exame, senão desisto. Só quando tiver a certeza absoluta de que a outra pessoa é a pessoa certa é que dou o próximo passo na relação. Resumindo, passamos a vida a recusar tudo o que não apresenta certezas de sucesso, e como as certezas de sucesso são quase impossíveis, passamos a recusar quase tudo.

Tal como acontece no conto de Sophia de Mello Breyner Andresen, A viagem, nunca estamos satisfeitos, porque estamos sempre à procura do ideal e perfeito. A vida e a da beleza passa-nos à frente, e nem reparamos, porque estávamos sempre à procura de um “melhor”, tão ideal que se torna impossível.

Procure dar mais um passo do o casal do conto A Viagem de Sofhia de Mello Breyner Andresen. Reconheça a sua humanidade e começa a colocar objectivos que sejam poucos, pequenos e possíveis. As pessoas perfeitas não existem, olhe o mundo real e não o mundo ideal e perfeito.