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Respeitar RitmosRespeitar ritmos_ um caso de luto

Para José, vir à peritagem emocional na Oficina de Psicologia era uma questão de vida ou morte. A sua companheira falecera há precisamente dois meses. Uma relação curta mas avassaladora – o testemunho personificado de que quantidade e intensidade não são uma correlação linear. Ainda em luas-de-mel, ela descobrira que tinha um cancro fulminante e que era uma questão de tempo. Pouco. Para ela e para ele.

Há dois anos atrás ele pensava que finalmente acertara. Não pensava muito sobre isso mas também não conseguia viver sozinho. Então iam (com)vivendo. Tudo aquilo em que ele pensava era no quanto uma casa vazia o atormentava e que, finalmente, podia dividi-la com alguém a quem enfim podia apresentar aos filhos.

Por muitos lutos tinha já passado e havia, com certeza, crenças assentes do seu papel perante tal situação. Ser o companheiro tão amado na reta final do seu amor de tão pouco tempo era uma das que negava. Porém, confrontado com este papel, fê-lo sem qualquer dúvida. Questionamentos? Muitos. Mas tinha a certeza de estar a agir da forma mais correta e mais apaziguadora para ambos. Aliás, paz era o presente último que lhe queria dar, depois de devoção, amor, entrega absoluta e presença incondicional.

Há dois meses estava ele junto ao leito do hospital onde ela dormia há já duas semanas quando, após três dias de grande cansaço e pesada respiração, olhou para o José e sorriu. Fora a sua forma de agradecer o companheirismo. Foi a sua maneira de, acamada, deixar o seu companheiro em paz, na paz de ter feito tudo o que podia e, melhor!, tudo o que ela desejou que ele fizesse. Assim partiu, em paz. Depois disso, todas as crenças assentes no papel de luto que ele tinha, deixaram de ser crenças estanques. Estagnado já ele estava. Amarrado àquela cama. Fixo naquele olhar de paz e tranquilidade. Até hoje o perseguiam. Não que fosse mau, mas não era definitivo.

Um capítulo novo – seguir com a vida

Hoje veio escrever um novo capítulo – “Fiz o que devia. Demorei a vir procurá-la mas agora estou bem. Vim na esperança de fechar um ciclo. Foi difícil mas estou pronto a tentar.” Para o José, vir ter comigo, ter feito esta peritagem emocional, era uma questão de vida ou morte. A dele. Precisava perdoar-se por toda a impotência e desculpar-se por não ter ido com ela – “Agora é hora de seguir com a minha vida”. Vinha decidido. Permitiu-me apenas fazer parte desse trajeto repleto de uma tristeza profunda e, simultaneamente, de uma humanidade vibrante. Talvez dois meses sejam pouco tempo para dois anos de total entrega numa relação avassaladora. Da mesma maneira com que se entregara, perdoava-se através daquele olhar que lhe agradeceu e que lhe permitiu, a ele, seguir com aquele calor no coração.

Autor : Sofia Alegria – Psicóloga Clínica

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