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Autor: Maria João Matos

Muitas são as famílias que se deparam com a realidade de uma separação que culmina em divórcio, enfrentando desafios que os adultos e crianças experienciam de forma diferente. São recorrentes os conflitos entre os adultos, a disputa ou o afastamento dos filhos, provocando momentos de mal-estar nestes, na família alargada e respetivos amigos. Mas existem cada vez mais casais preocupados, e que, perante a situação de divórcio, tentam minimizar as consequências nos filhos, abordando o assunto com estes, mantendo laços de afeto e de proximidade, minimizando os conflitos.

Existe consenso na literatura de que as crianças de pais divorciados apresentam um risco maior para o desenvolvimento de problemas psicológicos, comportamentais, sociais e escolares. A adaptação das crianças a este processo depende de vários fatores, nomeadamente da quantidade e qualidade do contacto com a figura parental que saiu de casa, do ajustamento psicológico das crianças, da capacidade de cuidado da figura parental que fica em casa, do nível de conflito entre os pais após a separação ou o divórcio, das dificuldades sócio-económicas e dos elementos stressores que incidiram sobre a vida familiar.

Deixamos algumas sugestões práticas para os pais ajudarem os filhos a lidarem de forma mais saudável com o acontecimento do divórcio:

• No momento de anunciar a decisão do divórcio ao seu filho, é importante que o discurso seja adequado à idade do mesmo, assim como a presença de ambos os pais, tendo em mente que nesse momento o mais importante é o bem-estar da criança, pelo que não devem entrar em discórdia;

– Explique ao seu filho que a rutura dos pais não vai alterar a relação que têm com ele, e que apesar de surgirem mudanças em casa, vão continuar a estar presentes, ainda que as promessas devam ser geridas de acordo com o que cada figura parental se pode responsabilizar;

– O seu filho poderá demorar algum tempo até conseguir perceber esta nova situação e a integrá-la no dia a dia, respeite o seu tempo;

– Mais tarde, quando possível, deverá ser explicado ao seu filho onde vai morar o progenitor que sai de casa e combinar próximos encontros;

– Proporcione um ambiente de liberdade no qual o seu filho possa exprimir as emoções e preocupações, incentive a expressão deste, aceitando-o, mantendo a calma e demonstrando compreender o que está a sentir;

– Evite que o seu filho se sinta culpado pela situação de divórcio, ajude-o a desconstruir esta ideia, uma vez que se trata de uma decisão do casal;

– Proporcione um ambiente de respeito, evitando que o seu filho crie uma visão negativa sobre a outra figura parental;

– Não peça ao seu filho que tome partido de um dos pais, é crucial que ele sinta que pode contar com ambos, ainda que separados;

– Sempre que possível, demonstre ao seu filho que a separação não vai mudar o amor que sente por ele;

– Evite a competição com o outro progenitor, agindo de forma apropriada, sem recurso a presentes;

– Mantenha as rotinas e as regras do seu filho o mais possível e permita que o contacto com a figura parental que saiu de casa aconteça sempre que ambos desejarem;

– No caso de existir família alargada e relações de proximidade e de afeto, permita que o seu filho as mantenha;

– Informe o professor do seu filho da situação de divórcio, para que, caso surjam mudanças de comportamento, possa estar atento e intervir atempadamente.

O divórcio pode ser um longo e complexo processo, envolvendo múltiplas mudanças, em que é necessário que todos os elementos respeitem o tempo de cada um, até que todos os ajustamentos familiares tenham ocorrido.

A procura de um psicoterapeuta para ajudar o seu filho a lidar com esta situação adversa é uma decisão que o ajudará a lidar com sentimentos de insegurança e a aprender a gerir a nova situação familiar.