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Raquel CarvalhoFace à magnitude dos últimos acontecimentos terroristas em Paris, os pais debatem-se com a dificuldade em abordar este tema com as crianças, que têm acesso a inúmera informação na televisão, rádio, internet, comentários na escola e em casa. É normal que os mais pequenos façam perguntas e manifestem medos relacionados com a sua integridade física e segurança.

Existe a tentação por parte dos adultos em privar as crianças de más notícias e acontecimentos, mas neste caso é inevitável fazê-lo, uma vez que os acontecimentos foram graves e que informação acerca do sucedido rapidamente se propagou.

Os pais devem dar oportunidade às crianças para falarem sobre o assunto, exporem as suas questões e incentivá-las a partilhar o que pensam e sentem.

Seguem-se algumas dicas para ajudar os adultos a explicarem o sucedido às crianças:

  • Os adultos devem, primeiramente, tentar regular as suas emoções (não entrar em pânico nem dramatizar) e ter cuidado com o que dizem e como reagem em frente dos menores. As crianças conseguem observar e absorver a ansiedade dos adultos.
  • A exposição excessiva às imagens e vídeos violentos deve ser evitada, pois poderão contribuir para medos e pesadelos perturbadores.
  • As crianças podem ter reações diferentes e expressar uma variedade de emoções. Os adultos devem ser tolerantes, empatizar e normalizar as emoções da criança, dizendo, por exemplo: “é natural que fiquemos assustados e que surjam muitas dúvidas”.
  • De modo a evitar que a criança ouça comentários que podem aumentar a curiosidade, o medo, especulações e/ou preconceitos é preferível que a família converse com ela, calmamente. As crianças calam muita coisa, por não terem a certeza de qual poderá ser a reacção dos adultos de referência e, no silêncio, vão crescendo interpretações que podem não ser as mais adequadas ou propícias ao seu desenvolvimento
  • É fulcral dizer a verdade à criança e adequar o conteúdo da informação à sua idade e desenvolvimento. Ainda antes de responder às questões da criança, deve perguntar-lhe o que sabe ou ouviu sobre o assunto e o que quer saber mais. Assim, conseguirá adequar a quantidade e conteúdo de informação. Explique de forma mais simples possível, não dando mais dados do que aqueles que a criança pede (evite detalhes sobre factos e números). Evite usar vocabulário difícil (Radicalismo islâmico”, “jihadismo” ou “atentados terroristas”);

É essencial ajudar a criança a sentir-se segura, informando que as pessoas más foram apanhadas e muitas pessoas estão a trabalhar para estarmos em segurança e para evitar que algo semelhante aconteça novamente. Para além disso, foque o caráter excecional do acontecimento, explicando que estes atentados acontecem muito poucas vezes. Poderá acrescentar que um dos motivos pelos quais estes atos violentos estão sempre a aparecer nos meios de comunicação social tem a ver com a sua raridade. Com crianças mais velhas e adolescentes poderá esclarecer a diferença entre possibilidade e probabilidade: a violência e terrorismo são possíveis no mundo, mas não é provável que aconteçam aqui.

Explique à criança e mostre no mapa onde aconteceram os ataques, para que perceba a distância longa entre a sua casa e o local dos mesmos.

Face à pergunta “porquê?”, explique que os ataques foram feitos por pessoas muito diferentes das que conhecemos, que acreditam que podem obrigar os outros a pensarem igual a elas próprias e que o podem fazer pela força e que até os adultos têm dificuldade em compreender totalmente os motivos.

Os adultos devem ficar atentos a algumas mudanças comportamentais e emocionais na criança, nomeadamente, dificuldades em dormir, pesadelos, ansiedade, a criança passar a fazer questão de andar sempre perto de um adulto, etc., e reforce a mensagem de segurança.

Mantenha a rotina da família. Não permita que a criança evite deslocar-se a determinados locais por ter medo, ajudando-a a ultrapassá-lo.

Aproveite para esclarecer alguns preconceitos, xenofobia ou mitos, de acordo com os valores da sua família. Reforce a ideia de que a violência não é fruto de religião, mas de pessoas que não respeitam a diferença e que não tiveram a mesma oportunidade de ir à escola em países livres e contactar com pessoas e informação muito diversificada.

Relembre a criança que a maioria das pessoas é boa e não usa a violência, sublinhando que o respeito e a tolerância por outra pessoa, pelo que é, pelo que pensa (mesmo que não concordemos), é essencial para viver em sociedade. E, acima de tudo, aproveite estas conversas para incentivar à aprendizagem de valores de tolerância, aceitação e respeito, bem como fomentar a autonomia de pensamento, alargando o tema à vida diária da criança, com exemplos e metáforas relacionadas com a escola, os amigos, a relação familiar, etc. Cada momento difícil é uma oportunidade de crescimento e este não será excepção para os mais miúdos aí em casa.