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Paula tinha 28 anos, um emprego em gestão, casada recentemente e acabado de se mudar para uma casa fora de Lisboa com o tão desejado quintal. Tudo o que tinha ambicionado na vida, parecia finalmente estar a acontecer, e a sua vida reunia todas as condições para ser plena e satisfatória.

Quando procurou acompanhamento psicoterapêutico, tinha-lhe sido diagnosticado Síndrome do Colon Irritável (SCI) há cerca de seis meses. A ansiedade de Paula era de tal modo elevada que por vezes nem conseguia falar e simplesmente chorava. Havia dias que nem conseguia ir trabalhar devido à viagem de autocarro ser longa, e ter que ir à casa de banho, com urgência, diversas vezes da parte da manhã. A sua vida social estava também severamente afectada porque tinha medo de frequentar locais públicos onde não houvesse uma casa de banho disponível.

A sua relação com o marido começou a deteriorar-se devido aos níveis elevados de ansiedade que desestabilizavam o ambiente, e aos condicionamentos que a SCI impunha. O medo chegou ao ponto de Paula não ir dar um passeio com o marido a um simples jardim ou à praia.

Tudo isto foi agravado pelo facto de Paula ter vergonha de contar às amigas e colegas que tinha este problema de saúde, acabando por dar desculpas para não sair, sentindo-se cada vez mais isolada. O que era outrora uma pessoa extrovertida estava a transformar-se numa pessoa ansiosa, medrosa e deprimida.

O caso de Paula pode soar exagerado, mas infelizmente não é! A  World Gastroenterology Organisation (WGO), estima uma prevalência da SCI nos países europeus e América do Norte de cerca de 10-15%, com maior incidência nos meios urbanos e predominância no sexo feminino. Sendo uma síndrome, é caracterizada por uma constelação de sintomas, que podem variar entre diarreia, obstipação, dor abdominal, distensão abdominal, flatulência e náuseas. Até à presente data, não se conhecem as verdadeiras causas, nem a cura da SCI.

Eu e Paula optámos por uma abordagem psicoterapêutica integrativa com técnicas de Hipnoterapia Clinica, Psicologia Cognitivo-Comportamental, Terapia Nutricional e EMDR (Eye Movement Desensitization Reprocessing). Numa fase inicial lidámos com os sintomas de ansiedade, que eram agravados pelos sintomas da SCI, que por sua vez eram agravados pela ansiedade. Paula aprendeu a relaxar, e foi efectuada uma gravação com sugestão hipnótica para ouvir todos os dias de manhã nas viagens de autocarro. Rapidamente começou a fazer a viagem diariamente sem percalços no percurso, o que ajudou a ganhar mais confiança e começar a estabelecer uma rotina matinal mais saudável. Nesta fase Paula começou a ser seguida pela nossa Nutricionista e adoptou um plano alimentar adaptado à sua situação clinica.

À medida que nos fomos conhecendo e com a sintomatologia mais controlada, começamos a focar a nossa atenção no que poderia estar subjacente, que estivesse de algum modo a causar ou agravar a SCI. Paula tinha situações muito traumáticas no seu historial que nunca tinham sido trabalhadas e as emoções associadas tinham sido reprimidas. A somatização dos sintomas surgiu na forma da SCI, como se o seu corpo estivesse através dos sintomas a expressar a dor das emoções oprimidas. Nesta fase da terapia optámos pela psicoterapia EMDR, que é uma das abordagens de eleição para lidar com trauma.

Ao fim de 9 meses de terapia, Paula começou a tomar decisões e estabelecer prioridades que vieram a ter um impacto fulcral na sua vida. Mudou para um emprego em que não tinha que trabalhar sob tanta pressão e com uma carga horaria menor, adoptou uma cadela com a qual desenvolveu uma relação de amizade muito intima, começou a fazer longas caminhadas diariamente, reduziu peso corporal e melhorou a relação com os pais, marido e amigos. Os sintomas da SCI ficaram de tal modo controlados que deixou de ser necessária a terapêutica medicamentosa.

Paula tinha resgatado o controlo da sua vida!

Susanne M. França