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Pare um pouco e analise a sua história de casal ou a da sua família. Identifique com que tipo de desporto mais assemelha. Daí conseguirá perceber o ritmo a que tudo aconteceu!

Imagine-se a ver dois géneros de competições desportivas. Uma muito rápida e outra mais tática. Uma com a adrenalina sempre a 100% e a outra com estratégia, análise do adversário, planeamento e de longa duração. Agora pense um pouco na sua história de casal ou na da sua família. Com qual se identifica mais: uma corrida de 100 metros ou uma maratona?

Existem situações na vida dos casais e/ou das famílias que levam a escolhas e decisões nem sempre ponderadas. Quando essas situações ocorrem logo no início do processo de formação e consolidação do sistema (conjugal ou familiar) podem criar-se novos caminhos, novas formas de comunicar ou de agir que nem sempre interessam, não são do agrado dos seus membros ou estão de acordo com o desejado; seja porque existem fatores que precipitam a união (por exemplo, a necessidade de partilha de despesas, a coabitação, a gravidez, necessidade de autonomia, etc.) ou porque não contrariaram um impulso motivado por uma paixão intensa, há casais que parecem ter um historial que se resume a dois dias: aquele em que se conheceram e o dia em que começaram as discussões. Por vezes a história é tão intensa e recheada de adrenalina que esses dias parecem seguidos! Quase dá para visualizar os dois de ténis calçados, numa qualquer corrida, com o objetivo de chegar à meta no menor tempo possível, mas sem saber bem qual é a meta.

Já abordei noutras publicações diversas situações em que devemos ter atenção às regras, limites e “contratos” nos casais. Mas e quando o casal não tem tempo para pensar “nessas coisas”? Quando não teve tempo de delinear fronteiras, partilhas, tarefas e apenas agora se apercebe de que existem mais fatores que os separam que os que os unem? Quando se apercebem de que estão unidos por bens materiais ou por uma história de paixão ardente vivida há um par de anos e que já não se repete, o que podem fazer?

Nem sempre conseguimos tomar as rédeas da nossa vida, levando-nos a aceitar o rumo que levamos, tirando o melhor partido da situação. Ao cabo de uns meses, se a viagem decorreu depressa demais e nos sentimos cansados, devemos parar, analisar e reorganizar o casal.

Não se consegue fazer uma maratona ao ritmo de uma corrida de 100 metros. As famílias que não puderam treinar para a maratona e tiveram de se adaptar para os sprints dos 100 metros, têm de, tal como um atleta, abrandar o ritmo (ou até mesmo parar) e reorganizar a sua preparação. Não vale a pena apostar numa estratégia de chutar para a frente e desejar que tudo corra bem, sem um planeamento sério e ponderado para nos levar a perceber os pontos fortes e as fraquezas do sistema, a enquadrar as relações, redefinir a comunicação e a projetar objetivos – deixar de ser uma competição de dois atletas isolados para passar a ser um jogo de equipa.

Este é um passo importante no casal, tentando deixar de parte tudo o que os separa, magoa ou deixa desconfortáveis. É importante que sinta que pode (deve!) deixar de correr; que deve parar e repensar. O objetivo deverá passar por planear o futuro em conjunto, de forma empática e assertiva, respeitando os novos limites entretanto estabelecidos ou esclarecidos. Devemos criar espaço para que o casal volte a conhecer-se e a namorar, para que deixe de falar apenas do quotidiano e que (re)comece a conhecer-se, de uma forma diferente e com uma adrenalina alternativa. No fundo, deve repensar-se enquanto casal.

O resultado final é para o benefício de ambos. Temos de nos lembrar que até na Formula 1 existem táticas, mesmo correndo a 300 km/h.