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Sofia Alegria

Sofia Alegria

Sabe aquele momento em que se atira uma pedra para dentro de um poço escuro e se fica à espera que bata na água do fundo? Imagine todo o processo que envolve: a expectativa, a audição apurada, o corpo tenso, o movimento lentificado, a enorme espera e … PLOCK, bateu no fundo. Ondas de som.

A solidão é como esse momento. Precisamente o momento entre deixar cair a pedra até tocar na água: um enorme silêncio vazio.

Sentir-se só é mais do que estar sozinho. Pode ser não ter do outro lado o ricochete necessário ao som, havendo ou não outra pessoa do outro lado. Mais fácil seria se a condição única para a solidão fosse a condição numérica um. Nem sempre é.

Mas diz o ditado popular “mais vale só que mal acompanhado”. Para aqueles que teimam em rever-se neste chavão sem, no entanto, estarem verdadeiramente satisfeitos, a questão pode muito bem ser até quando?. Podemos ir aos caídos, que nem folhas de árvores em pleno Outono. Um dia firmes. Em tempos seguras e certas. Perde-se a noção dos dias e por vezes até o caminho de volta. Estudos indicam que até o sistema imunitário vai enfraquecendo – já não bastava a depressão e a ansiedade. Querer resposta mas não se sentir ouvido. Continuar a querer.

Dar-se conta desse momento é permitir-se estar alerta e poder fazer alguma coisa. Não é tarde, nem é cedo. Não faz de si menos capaz.

E não tem mal dizer:

«O teu crucifixo não me ilumina
O teu sacrifício não me pode fazer bem
Não é bom para ninguém
Hum, não ajudas ninguém…»

“Minha senhora da solidão” de  Jorge Palma

Pode mudar. Pode pedir ajuda. Pode iniciar um processo psicoterapêutico. (E assim se vai com companhia.)

Sofia Alegria – Psicóloga Clínica