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a solidão na meia idadeA solidão na meia-idade

Quando escrevi o título deste artigo pensei, que título tão específico! Como falar apenas deste grupo de pessoas, mulheres, a partir dos 40 anos de idade? O que este grupo tem de específico?
Em primeiro lugar cheguei a conclusão que este artigo não visa definir uma situação estudada e contabilizada por estatísticas, nem nada que se pareça. É sim uma reflexão sobre a minha prática clínica, onde cada vez mais, recebo mulheres com idades entre os 40 e os 60 anos cuja principal queixa é mesmo a solidão. Esta surge junto com a Depressão ou com a Ansiedade, mas quando vasculhamos para ver o que está lá por trás, o que salta à vista, é uma grande sensação de solidão.
A solidão a que me refiro aqui, é a experiência subjectiva que uma pessoa tem ao sentir-se só, desamparado, sem apoio, sem relações significativas. E esta experiência surge na vida de todas as pessoas em determinado momento. Quando esta sensação dura no tempo trazendo desconforto, depressão e ansiedade, é preciso observar melhor o que está a acontecer.
Vou expor três exemplos de duas mulheres, que são bastante elucidativos do tipo de questões que surgem frequentemente no nosso consultório.

Maria, 50 anos

Maria está separada do marido há cerca de 8 anos. Esta separação surge na sequência de uma traição por parte do marido. Esteve casada 25 anos e tem um filho de 20 anos, que ainda vive com ela.
Maria chega ao consultório com queixas de depressão, choro constante, apatia e falta de vontade de viver.
Comecei a investigar mais sobre o dia-a-dia de Maria e sua história passada. Ela trabalha como gerente de uma loja, trabalha bastante isolada sem colegas, diz que se sente como um “zombie”, vai e volta do trabalho de forma automática, sem apreciar nada do seu dia.
Casou muito cedo e teve uma vida bastante centrada na família, principalmente depois do nascimento do filho. O marido era conservador e não gostava de convívio social e nem mesmo que ela trabalhasse. Hoje sente que não tem amigos, o filho já é um adulto e segundo ela, não lhe liga.

Madalena, 46 anos

Madalena chega ao consultório com queixas de ataque de pânico e ansiedade. Diz que tem medo de quase tudo, e sente que a vida é demasiado ameaçadora.
É viúva e tem duas filhas que já não vivem com ela. Teve um namorado mas afirma que é muito difícil conhecer homens interessantes e que a maioria dos homens da sua idade prefere mulheres mais novas. Tem poucos amigos e trabalha como administrativa num hospital.
Já tinha esse trabalho enquanto casada mas afirma ter sido algo que “arranjou para ajudar nas contas”. Nunca investiu na sua formação pessoal e o seu sonho era ter feito um curso de gestão para poder abrir o próprio negócio na área da restauração.

Joana, 45 anos

Joana é professora, foi casada durante cerca de 20 anos e tem dois filhos ainda pequenos.
Joana tem uma vida profissional mais satisfatória do que a Maria ou a Madalena, no entanto, no escalão onde se encontra, os seus rendimentos são bastante baixos. Depois da sua separação viu-se obrigada a reduzir drasticamente o nível de vida que tinha enquanto casada. Nunca teve tempo de investir na sua carreira, fazendo outro tipo de cursos e especializações, sente que esse foi um desejo constantemente posto de lado pois dava prioridade à família.
Hoje sente que a sua situação é bastante precária, está com os filhos durante 15 dias alternando com o ex marido que fica com eles apenas durante uma semana devido às constantes viagens de trabalho. Tem pouco dinheiro para qualquer tipo de actividade social, diverte-se pouco e sente-se muito cansada devido ao ritmo muito pesado da sua rotina diária.

A vida que as une

O que essas mulheres têm em comum? E o que elas têm em comum com tantas outras mulheres que procuram ajuda na psicoterapia? Sentem-se sozinhas, não criaram uma vida pessoal suficientemente preenchida, com redes de suporte sólidas, para poderem neste momento suportar a ausência dos filhos ou de um companheiro.

Na nossa cultura, é muito comum ouvir relatos de mulheres desta geração, que hoje têm entre 40 e 60 anos, cuja vida foi essencialmente dedicada à família. Foram mulheres que abdicaram de suas carreiras e de muitos preenchimentos individuais, pois foram criadas a sentirem que era esse o seu dever.

Numa fase da vida em que os filhos, já adultos rumam em direcção à sua autonomia, e os maridos, ou já faleceram ou então já se foram embora, elas vêem-se numa situação para a qual não estavam preparadas. Muitas até têm os seus trabalhos, mas estes não podem ser considerados carreiras pois não trazem um grau importante de preenchimento pessoal.
Não cultivaram relações íntimas pois o tempo que tinham era essencialmente para as tarefas domésticas, para o cuidar dos outros. São mulheres que esqueceram de cuidar de si mesmas, não criando recursos para uma meia-idade feliz.
Os sentimentos de fragilidade, de abandono, de vitimização, que muitas vezes é relatado por estas mulheres, muitas vezes contribuem para afastar ainda mais os outros à sua volta, em vez de surtir o efeito de chamar a atenção para este drama pessoal. São mulheres que por vezes cobram dos filhos a presença e a atenção que não têm de ninguém. Ou então, vão caindo no isolamento, sem queixas ou avisos, e mais tarde ou mais cedo surgem sintomas de algum tipo de fragilidade física e emocional.

Numa sociedade em que os homens ainda têm maior facilidade em terem empregos bem pagos, mantendo um estatuto social mais favorável, onde podem ser mais autónomos devido a vários tipos de facilidades e onde o papel de provedor ainda desempenha uma importante função, são também eles que com mais facilidade refazem a sua vida após uma separação. Têm mais liberdade e maior mobilidade. Como desde sempre investiram em si mesmos, quando terminam uma relação, têm uma vida suficientemente preenchida que lhes permite uma maior satisfação pessoal.

O que fazer então?

Como devem imaginar, não serve absolutamente de nada achar que a vida acabou, continuar a sofrer com depressões e crises de ansiedade.
Pode ser de grande ajuda olhar para o exemplo do próprio parceiro! Se é mais fácil para o homem refazer a sua vida devido ao seu maior elevado grau de preenchimento pessoal, é exactamente esse o exemplo a seguir.

O trabalho da psicoterapia nestas situações é altamente útil, no sentido em que permite a essas mulheres se reinventarem. Aumentando a consciência de dimensões suas que não estavam ainda exploradas, permitindo através de uma relação segura, uma viagem por novas possibilidades e interesses. Dá a essas mulheres o poder que perderam sobre a sua própria felicidade.

É maravilhoso ver que estas, são mulheres que florescem na terapia, que se tornam mais bonitas, mais donas de si, causando muitas vezes surpresa nos que a rodeiam. Muitas delas encontram novas actividades, novos trabalhos, novos amigos e até mesmo novos companheiros, pois entram em estado de conexão com o seu amor-próprio e a sua auto- confiança.
Assim, se este é o seu caso, lembre-se que não é a única, que não está sozinha e que esta é apenas uma crise da vida, que como qualquer outra, só depende de si para ser bem resolvida!

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3 de Setembro, 2023

Tenho 54 anos, separada amigavelmente, mãe deu um filho lindo que nos deixou nos seus 20 anos. Prestes a me aposentar, sinto-me a deriva. Literalmente.

Katia
31 de Julho, 2023

tenho apenas 32 anos e me sinto exatamente como Maria , historia bem parecida. Tenho uma filha de 15 anos, trabalho e estudo a noite, passo bastante tempo fora de cara, conheço muita gente as vezes saio para me divertir e ainda consigo rir bastante…mas vire e mexe me pego triste sozinha e sem animo mesmo dando valor a tudo que conquistei sozinha. Pai da minha menina foi meu primeiro homem casamos e ficamos 8 anos juntos até ele me trair pela 3° vez e eu decidir viver só

cá estou eu vivendo minha liberdade e o que queria…..mas não parece ser o suficiente.

Tamara Melo
29 de Julho, 2023

Ajudou a entender a fase que estou passando. Tenho 48 anos, criei uma filha sozinha, minha vida sempre foi de muita luta e trabalho. Agora que minha foi pra faculdade e quase não

Está em casa me sinto vazia. Sem propósito. Pra ajudar passei a trabalhar home office depois da Pandemia. Então o isolamento social é ainda maior. Não tenho amigos. Sempre vivi pra família. Minha filha e mãe com Alzheimer. Enfim, não estou feliz. Me sinto apática, e não sei ou não tenho ânimo pra mudar essa situação.

Vera
15 de Maio, 2023

Sou mais uma maria

Andrea
10 de Fevereiro, 2023

Artigo muito interessante,revi_me nele.

Alcinda Caramona
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