Quando o adolescente recorre à auto-mutilação

Tempo de Leitura: 2 min

Quando o adolescente recorre à auto-mutilação

Quando o adolescente recorre à auto-mutilação para lidar com o sofrimento

Alguns dos adolescentes que partilham em consulta que se auto-mutilam admitem que já o faziam há algum tempo antes de os pais terem tomado conhecimento. Na maioria das vezes os pais referem mesmo não terem identificado quaisquer sinais de alarme, ficando muito assustados e imersos numa grande preocupação e desorientação quando confrontados com a partilha do filho. A dor de um adolescente que se auto-mutila é grande… E por isso pais e outros adultos cuidadores anseiam por orientações que acalmem a própria angústia, possibilitando um apoio adequado ao jovem.

Embora possa parecer estranho, a auto-mutilação entre os jovens pode ocorrer como uma espécie de “moda”, quando alguém no grupo de pares experimenta fazê-lo e acaba por ser seguido pelos outros. Sendo uma experiência dolorosa, a maioria dos adolescentes acaba por interromper o comportamento. No entanto, quando a auto-mutilação persiste, geralmente é porque estamos perante um jovem que vive em grande sofrimento emocional, que busca na dor do corpo uma “justificação” para a dor emocional. Reflectindo com o adolescente sobre a sua relação com as emoções, este começa a ganhar consciência de que é mais sensível às emoções, sentindo-as de forma mais profunda e intensa que os outros, optando por não as expressar, “guardando-as só para si”, e demorando mais tempo a sentir-se reconfortado, com todos os custos que isso acarreta.

Manter a calma será um importante primeiro passo a adoptar pelos pais quando descobrem que o filho se auto-mutila. Alguns pais reagem com pânico e desorientação, o que poderá agravar ainda mais a sensação de desconforto do adolescente. Dizer apenas para parar de o fazer terá também pouco efeito. No entanto, retirar do alcance do jovem objectos com que se possa magoar pode ser de extrema importância. Paralelamente, e com efeito mais duradouro e profundo, será fundamental adoptar uma postura de disponibilidade para escutar o que preocupa o jovem e o que está a sentir. Assim, mostre interesse por aquilo que o jovem pensa e sente, dando-lhe espaço para (mas não o obrigando a) partilhar.

Em simultâneo, o encaminhamento para um profissional qualificado, como um psicólogo, será importante no sentido de serem aprendidas/desenvolvidas outras estratégias de regulação emocional alternativas e mais adequadas.

A comunicação eficaz dentro da família é verdadeiramente importante para que o adolescente se sinta seguro, valorizado e confiante, pelo que se sugere a existência de um momento diário, nas rotinas da família, em que todos se sintam livres e aceites na partilha de ideias, dúvidas, preocupações e conquistas.

Inês Afonso Marques
Inês Afonso MarquesPsicóloga Clínica
2017-03-16T14:16:32+00:0027 de Setembro, 2014|
Go to Top