Sabe que a pele é o seu maior órgão? Separa-o do mundo, de tudo o que é “não-eu”, em cerca de 2 metros quadrados e soma 3.6 quilos ao peso que a sua balança marca. É, além de outras funções, uma grande barreira protectora do seu corpo. E é da função protectora de uma representação visual desta barreira entre si e os outros de que lhe queria falar hoje.
Atenção, não estou a falar da pele propriamente dita, nem da sua interrelação estreita com temas emocionais.
Para perceber do que estou a falar, comecemos por um exercício. Pense numa pessoa que lhe é chegada, emocionalmente próxima, e de quem gosta. Já pensou? Feche os olhos e visualize-a por uns breves momentos. Agora, tente responder às seguintes perguntas em relação àquilo que visualizou:
- Há alguma coisa a separá-lo desta pessoa? Ou o espaço que reside entre ambos não tem nada a separar-vos?
- Se houver alguma espécie de barreira entre os dois, consegue aperceber-se de que material é feita? Qual a sua dimensão, qual a sua porosidade?
Agora pense numa pessoa que lhe transmita uma sensação de insegurança pessoal, com quem se sinta alerta e tenso. Feche os olhos e visualize uma interacção com essa pessoa. Agora reflicta sobre as mesmas perguntas em relação àquilo que visualizou. Há uma grande probabilidade de existir uma diferença significativa entre aquilo que o separa subconscientemente de uma pessoa nos seus círculos de intimidade e afecto de uma outra pessoa que gostaria de empurrar para o mais longe possível.
Volte a pensar nesta última pessoa, aquela que lhe transmite uma sensação de desconforto. Se reparar com atenção na sua experiência interna é natural que se aperceba de algum tipo de fronteira, de limite que o separa do outro, como uma pele que o protege, mas talvez afastada do corpo
Vamos observá-la com atenção:
Como é este limite separador? De que é feito, e como é que o protege? Rodeia-o de todos os lados, ou está apenas à sua frente? Também o protege em cima e em baixo? A que distância está do seu corpo? Qual a sua densidade e espessura? É duro e rígido, como o vidro ou o aço, ou mais flexível, como se fosse feito de borracha ou tecido? Ou é mais como um campo de energia magnética ou um tipo de radar? Tem uma cor? Emite algum som? Do que o consegue proteger eficazmente, e quais são os seus pontos fracos de protecção?
Vamos fazer um pequeno teste? Volte a visualizar esta pessoa que lhe é desconfortável e imagine que este limite separador se dissolve entre si e o outro. Como é que isso o faz sentir? Provavelmente, sentiu-se mais vulnerável, incomodado, talvez mesmo, tenso.
Curioso como coisas de que não nos apercebemos de forma geral estão lá bem dentro de nós, de uma forma instintiva e silenciosa, mas a fazer o seu trabalho – neste caso de protecção psicológica em relação aos que nos rodeiam.
Esta “pele psicológica” é muito diferente de pessoa para pessoa – vou reparando, em consultas, que é como se alguns dos meus clientes a tivessem “grossa” e pouco porosa. O que os outros dizem e fazem fica-lhes à distância, quase ricocheta. Mas o mais comum, mesmo, é ter à minha frente alguém com limites separadores demasiado ténues – uma pele fininha e porosa, por onde tudo passa, entra e fica a remexer, quando não é mesmo a criar um caos. Como é que cada um de nós vai adquirindo a “pele psicológica” que tem, não faço ideia – provavelmente por processos abaixo do limiar da consciência, por tentativa e erro, na dança de vinculação que marca os primeiros anos de vida. Aliás esta é apenas uma metáfora descritiva porque, cientificamente falando, não se pode dizer que já tenha sido identificada a sua existência; mas, se perguntar a qualquer clínico experiente, de imediato, ele ou ela saberá catalogar os seus clientes em relação à porosidade da respectiva pele 🙂
O facto é que este aspecto é importante na nossa regulação emocional: poros a menos (ou uma pele psicológica demasiado rígida e espessa) e redunda naquilo que habitualmente se chama de baixa inteligência emocional, porque não deixar que ninguém chegue perto a ponto de interferir com o nosso sistema emocional é abrir caminho para uma incompreensão progressiva dos outros. Mas poros a mais (ou uma pele psicológica demasiado fina) é ficar refém das emoções dos outros e dos seus actos e palavras, sujeitos a montanhas russas emocionais e descontroladas.
Por isso, é uma boa ideia aperceber-se dos limites instintivos que tem dentro de si para se proteger de quem precisa proteger-se, e habituar-se a ir aprimorando-os. E como é que isso se faz?
Deixo-lhe mais um exercício possível, que, tal como o anterior, fui pedir emprestado, numa adaptação livre, a Steve Andreas, com a nota de que não é coisa que se faça apenas uma vez – é mais um processo que se vai refazendo ao longo do tempo. E, além disso, não tem uma forma certa – há que experimentar dentro de si o que melhor funciona para si, e para cada circunstância. Porquê em cada circunstância? Porque um determinado limite separador entre si e os outros pode ser muito eficaz em conseguir manter o seu isolamento do sofrimento e emoções perturbadoras dos outros, impedindo que interfiram com o seu bem-estar e a sua funcionalidade, mas não ser grande coisa a protegê-lo de palavras duras ou críticas destrutivas. Há que experimentar e ir fazendo afinações em cada circunstância, sempre vendo qual o impacto de cada afinação no seu bem-estar. Conserve o que funciona para si e continue a fazer experiências sobre qualquer limite separador que não esteja a cumprir com a sua função.
Como é que pode ir fazendo experiências? Visualizando cada limite que o separa/protege e ir mudando as suas características específicas: mude a cor, a espessura, a distância a que está de si, o material de que é feito, as características acústicas (o som que tem; a capacidade de absorver ou filtrar sons). Para cada modificação, verifique se o resultado o faz sentir mais ou menos vulnerável, mais ou menos seguro. E verifique também se não tem nenhum inconveniente que se misture com a eficácia. Por exemplo, pode ter um limite denso e rígido, como uma parede, que sente protege-lo muito bem, mas sente-se incomodado por não conseguir ver para além desse limite – experimente fazê-lo transparente, ou mais fino, ou mais claro. Experimentar e experimentar, guardando as alterações que funcionam.
Alguns princípios gerais que o podem ajudar nas suas experiências:
Distância: Imagine que o limite que o rodeia se afasta mais da sua pele física, porque demasiado próximo origina mais tensão emocional; sinta esse espaço de segurança
Flexibilidade: mantenha estas fronteiras flexíveis para que se adaptem rapidamente a qualquer situação, expandindo e fortificando-se em situações potencialmente difíceis, tornando-se finas e suaves quando está perante contextos tranquilos e seguros
Dureza: tudo o que é rígido pode partir, por isso, opte por limites elásticos ou resilientes, que se possam acomodar ao impacto de um choque frontal.
Vale a pena o pouco tempo que terá de investir neste processo, porque os limites saudáveis acrescem ao seu autocontrolo e permitem-lhe o distanciamento suficiente para uma análise objectiva, sem os atropelos de emoções excessivas, e o planeamento de como melhor reagir perante quem o rodeia. Experienciar a vida a partir de um ponto onde nos sentimos em segurança é muito diferente do que experiencia-la a partir de um lugar de confusão e tensão emocional.
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